Título: Ritmo do emprego é o mais lento desde 2008
Autor: Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2011, Economia, p. B9

O mercado de trabalho perde fôlego no ritmo mais veloz desde o início da crise internacional de 2008. Como numa maratona, emprego e desemprego disputam uma corrida. Nos últimos cinco meses, a velocidade do crescimento das demissões superou a das contratações, mas, como a geração de vagas mantém vantagem o ano inteiro, o desemprego ainda não é rápido o suficiente para ultrapassar o emprego. Em outras palavras, a criação de vagas de trabalho passou de lebre a tartaruga. Depois de se recuperar da crise financeira de 2008, o mercado de trabalho passou por duas fases. Entre outubro de 2009 e agosto do ano passado, as contratações seguiram um ritmo forte, com recordes na geração de empregos.

Em março deste ano, uma nova tendência começou e, desde então, a velocidade das demissões é maior do que a das contratações. Para se ter ideia, em julho de 2010 houve 1,61 milhão de vagas criadas ante 1,43 milhão de demitidos. No mês passado, surgiu 1,7 milhão de novas vagas, ante 1,56 milhão de demissões. Comparando o mês de julho deste ano com o mesmo mês do ano passado temos 83 mil carteiras de trabalho a mais, contra 124 mil demissões.

Os números mostram uma inversão do mercado de trabalho em relação ao ano passado, quando a taxa de expansão do emprego superou a do desemprego em nove dos 12 meses do ano. O ritmo da ocupação e desocupação é vital para entender a dinâmica do País, onde há grande rotatividade de mão de obra, segundo Anselmo Luis dos Santos, diretor adjunto do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas. "Quando a economia está aquecida, crescem os demitidos, mas também o numero de contratações", explicou.

O número de vagas divulgado no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compõe um balanço mensal entre vagas criadas e fechadas. Quando há mais demissões que contratações, o Caged é positivo, como foi em julho. Quando a situação é inversa, o Caged é negativo, o que geralmente ocorre no fim do ano porque as empresas demitem maior número de temporários. Os dados compilados pelo Estado não indicam aumento do desemprego, mas geração menor de vagas, em linha com os dados divulgados pelo Ministério do Trabalho.

O descompasso no mercado de trabalho pode ser explicado pelas medidas tomadas pelo governo para desacelerar a economia, segundo David Becker, economista-chefe para Brasil e estrategista de renda fixa do Bank of America. "Temos sinais de acomodação e desaceleração no mercado de trabalho", disse.