Título: No poder, opositores enfrentarão luta por unidade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2011, Internacional, p. A12/15

EUA pressionam insurgentes para que divisão sectária não leve a cenário semelhante ao visto no Iraque

Com os rebeldes prestes a encerrar o longo reinado de Muamar Kadafi, o caráter de seu movimento enfrenta seu primeiro verdadeiro teste: os insurgentes conseguirão construir um novo governo de unidade e reconciliação, ou suas rivalidades internas criarão divisões profundas na nova Líbia?

A luta comum contra Kadafi nunca mascarou as divisões entre leste e oeste; entre líderes políticos e milícias sectárias; e, alguns dizem, entre liberais e islâmicos nas fileiras rebeldes. Os rebeldes do oeste desconfiam de sua liderança política, o Conselho Nacional de Transição (CNT), com base na cidade oriental de Benghazi. Muitos se queixaram de que o CNT não lhes deu apoio suficiente.

Autoridades americanas e europeias disseram que trabalham para promover a coesão e evitar uma repetição da luta sectária que assolou o Iraque após a invasão americana em 2003.

Mesmo assim, rivalidades começaram a surgir. Autoridades do CNT disseram no domingo que suas forças haviam capturado o filho e possível sucessor de Kadafi, Saif al-Islam Kadafi. Na segunda-feira, porém, rebeldes em Trípoli foram reticentes sobre seu paradeiro e alguns pareciam não confiar na liderança de Benghazi para entregá-lo a ela.

Emhemmed Ghula, um líder da resistência rebelde em Trípoli, disse que estava preocupado pelo fato de a liderança em Benghazi ter erroneamente acertado o envio de Saif para o Tribunal Penal Internacional em Haia, onde ele é procurado por crimes de guerra. "Se nós o capturarmos, não vamos entregá-lo a ninguém." Inquirido sobre a sua relação com a liderança nacional do movimento, Ghula reconheceu: "Nós pertencemos a eles, politicamente. Eles nos ajudaram no plano para essa revolução." Mas acrescentou: "Não no plano local."

Líderes rebeldes dizem que trabalharam preparando o caminho para uma unidade nacional.

Graças às lições do Iraque, o governo de Barack Obama e seus aliados supervisionaram o esboço de "um mapa da estrada de transição" que cria uma autoridade de governo interinas até serem realizadas eleições.

O mapa não especificou um cronograma para a votação. Mas as autoridades disseram que os líderes rebeldes prometeram criar um governo aberto e inclusivo e, também, não praticar vinganças ou expurgos.