Título: Gasto de brasileiros no exterior bate novos recordes
Autor: Nakagawa, Fernando ; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2011, Economia, p. B4
Em julho, conta superou a receita com estrangeiros no Brasil em US$ 1,7 bi; recorde será novamente quebrado neste mês
Mês de férias, julho teve novo recorde no gasto de brasileiros em viagens internacionais. No mês passado, a conta paga por turistas no exterior superou a receita com estrangeiros no Brasil em US$ 1,7 bilhão, maior valor desde o início da série histórica do Banco Central, em 1947.
Esse saldo negativo do turismo foi o principal componente do déficit das contas externas brasileiras, que somou US$ 3,49 bilhões em julho.
Juntos, a economia em expansão e o real forte nunca levaram tantos brasileiros ao exterior. Dados do Banco Central mostram que a conta paga por turistas em hotéis, restaurantes e lojas no exterior alcançou US$ 2,19 bilhões no mês passado, maior valor em 64 anos.
O recorde, porém, já caiu. Mesmo faltando oito dias para o fim do mês e sem férias dos estudantes, o extrato dessas despesas já soma US$ 2,28 bilhões em agosto, conforme dados atualizados até ontem.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, diz que esse movimento no turismo internacional é crescente e não é possível afirmar se estaríamos próximos de um "teto" para essa expansão. "As viagens reagem muito ao ritmo da economia. Se a economia está bem, as viagens aumentam."
Novo papel. Com essa evolução, o turismo deixou de ter papel secundário nas contas externas. No início da década, as viagens provocavam déficits que respondiam por cerca de 10% do resultado total.
Na época, despesas como pagamento de juro e remessa de lucros eram mais importantes. Hoje, o quadro mudou. Em julho, a participação do turismo no resultado total alcançou 48,8%.
Ou seja, quase metade de todo o déficit em transações correntes foi gerado por despesas como a compra do iPad, a conta do restaurante em Buenos Aires ou do hotel em Paris.
De janeiro a julho, o déficit externo brasileiro atingiu US$ 28,94 bilhões, o maior valor para esse período da série histórica.
Maciel, do Departamento Econômico do Banco Central, explica que o déficit recorde é resultado do elevado ritmo de crescimento da economia, o que aumenta a demanda por bens e serviços do exterior. "Em consumo, isso é visto nas viagens. Em investimento, vimos isso nas máquinas e equipamentos."
O rombo de agosto nas contas externas brasileiras, porém, foi integralmente coberto pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED), que somou US$ 5,97 bilhões no mês passado.
O investimento produtivo também cobriu totalmente o rombo do ano, já que o volume somou US$ 38,44 bilhões nos sete meses.