Título: Ser autoprodutor de gás não é a única vantagem
Autor: Mendes, Karla
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2011, Economia, p. B5

Executiva justifica posição da Petrobrás no último leilão de energia nova e defende atuação da estatal

Maria das Graças Foster, diretora de Gás e Energia da Petrobrás

Primeira mulher a se tornar diretora executiva na história da Petrobrás, a engenheira química Maria das Graças Foster assumiu a diretoria de Gás e Energia em 2007, ano em que a área amargou prejuízo de R$ 1,3 bilhão. "Só no primeiro semestre de 2011, já fizemos um resultado positivo de R$ 1,2 bilhão."

É com base na busca pelo melhor resultado que a executiva defende a Petrobrás no último leilão de energia nova, realizado pelo governo na semana passada. Alvo de críticas por ter imposto regras restritivas aos compradores do seu gás, a estatal vendeu a energia de um projeto seu no leilão, a térmica Baixada Fluminense (RJ).

A seguir, os principais trechos da entrevista:

A sra. tem sido cotada para assumir cargos importantes no governo da presidente Dilma Rousseff, como a Casa Civil e a presidência da Petrobrás. Agora, o seu nome foi sugerido para dirigir a área de Exploração e Produção da empresa. Isso procede?

Fico preocupada, porque parece que não querem que eu fique onde estou. Levei tempo para aprender sobre gás e energia e reverter o resultado. Antes, tínhamos resultados negativos terríveis. Quando cheguei em 2007, tivemos prejuízo de R$ 1,3 bilhão. Hoje, só no primeiro semestre já fizemos R$ 1,2 bilhão positivo. São três anos dando lucro. Fico honrada quando vejo menções positivas sobre o meu desempenho como executiva e técnica. Mas não sei explicar por que o meu nome é discutido em tantas posições. Não há nada de concreto.

No último leilão de energia nova, as térmicas vencedoras estão ligadas aos produtores de gás, a MPX e a Petrobrás. Isso comprova a reclamação dos outros investidores de que só quem produz o gás tem chance de ser competitivo para ganhar os leilões?

A vantagem de um autoprodutor é real, mas não é maior do que o conjunto de sinergias que a Petrobrás tem. Vendemos a energia da nossa usina Baixada Fluminense a R$ 104,75/MWh, enquanto as nossas estimativas apontavam que nossos competidores poderiam chegar entre R$ 120/MWh e R$ 125/MWh. Essa diferença não se explica só pelo fato de sermos autoprodutores ou pela questão da inflexibilidade (tempo de geração em um ano). É preciso lembrar que, quanto maior somos, mais competitivos nos tornamos.

Quais são essas vantagens competitivas?

Temos uma diminuição dos nossos custos operacionais, uma vez que gerimos um parque gerador de 6,1 mil MW de potência instalada. Isso é feito por meio do nosso Centro de Operações de Energia, no Rio de Janeiro. Ao declaramos inflexibilidade zero, temos um série de vantagens. Além disso, a termoelétrica Baixada Fluminense será construída no "quintal" da nossa térmica Barbosa Lima (RJ), o que permite compartilhar, por exemplo, o sistema de captação de água e o terreno.

Agentes do setor levantaram a hipótese de denunciar a Petrobrás por abuso de poder. A companhia entende que feriu alguma regra da licitação?

Não vejo como a Petrobrás pode ser punida por ser verticalizada. O leilão teve grande competição, como reconheceu o próprio diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner. As térmicas a gás natural partiram de R$ 139/MWh e fecharam em R$ 101,90/MWh, que foi o projeto da MPX, e as eólicas saíram de R$ 139/MWh e encerraram em R$ 99/MWh. Não provocamos prejuízo à competição, e os números demonstram isso. Apesar disso, consideramos que é democrático que qualquer desconforto seja levado aos órgãos de defesa da concorrência. A figura do autoprodutor está prevista na Lei do Gás. Além disso, quando a conquista de um mercado é fundamentada na maior eficiência, isso não se caracteriza em qualquer ato ilícito. A atuação da Petrobrás como geradora e supridora do combustível tem amparo na Lei do Gás e na própria dinâmica do leilão, que nos aceitou. Até o momento, a nossa área jurídica avalia que não cometemos nenhum tipo de infração.