Título: Desempenho fiscal tem leitura distorcida
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2011, Economia, p. B5

A freada nos investimentos públicos federais no primeiro semestre de 2011, comparada à forte expansão de 2010, pode ter sido ainda mais drástica do que já se sabia. Em recente relatório, Fernando Montero, da corretora Convenção, notou que o governo "empurrou" R$ 3 bilhões de despesas de custeio e R$ 2 bilhões de investimento de dezembro de 2010 para janeiro de 2011.

A manobra, junto com um depósito judicial de PIS/Pasep de R$ 4 bilhões da Caixa, permitiu que o governo cumprisse a meta de superávit primário do setor público consolidado de 2,9% do PIB em 2010. Em compensação, ela criou distorções na leitura do desempenho fiscal em 2011.

No caso do investimento, se os valores fossem ajustados (isto é, trazendo de volta a despesa "empurrada" para dezembro de 2010), teria havido uma queda nominal de 8,5% no primeiro semestre de 2011, comparado a igual período do ano anterior, após uma alta de 43,9% em 2010.

No conjunto das despesas do governo central, a manobra, se desfeita, registraria uma alta nominal de 9% no primeiro semestre de 2011 (ante igual período de 2010), e não o dado oficial de 10,7%. Por outro lado, nota Montero, 2012 começará com uma alta pequena de gastos em janeiro, já que a base de comparação de 2011 está artificialmente inflada.

Montero concorda em linhas gerais com a análise de Mansueto Almeida, do Ipea, sobre a expansão fiscal em 2012. Mas disse que aprendeu a "não apostar contra a "super Receita"", já que o aumento da arrecadação no Brasil vem surpreendendo constantemente, ajudando o governo no cumprimento das metas fiscais.

Felipe Salto, da Tendências, também acha que a expansão fiscal já contratada fará com que o governo, em 2012, tenha de optar entre reduzir o superávit primário (o que ele acha mais provável) ou elevar impostos.

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