Título: PIB do BC'' cai pela 1ª vez após 2 anos e meio
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2011, Economia, p. B6

Para governo, freada traz inflação para a meta de 4,5% em 2012; analistas dizem que desaceleração deve fazer BC abortar ciclo de alta de juro básico

Pela primeira vez desde dezembro de 2008, no auge da crise global, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou queda de um mês para o outro. O índice, que tenta antecipar o resultado do PIB brasileiro, caiu 0,26% em junho em relação a maio. Com o recuo, o indicador encerrou o segundo trimestre do ano em alta de apenas 0,69% na comparação com os três meses anteriores, mostrando uma clara desaceleração econômica.

O desempenho do período de abril a junho foi, em termos anualizados, inferior a 3% de crescimento - bem abaixo das taxas de 4,5% a 5,5% verificadas nos trimestres anteriores. Segundo uma fonte da área econômica do governo, os números divulgados ontem mostram que é crescente a chance de o IPCA, a inflação oficial, convergir para a meta de 4,5% em 2012.

A interpretação desse integrante do governo é que o índice evidencia que a economia brasileira se desloca para uma trajetória de crescimento sustentável. A fonte lembrou que as ações de política econômica adotadas ainda terão seu efeito pleno ao longo do segundo semestre, especialmente nos três meses finais, o que torna mais favorável o balanço de riscos para a inflação.

Mas esse também é um ponto de preocupação na área econômica. O governo não gostaria de desacelerar demais o nível de atividade. A intenção é não deixar o Brasil crescer menos de 4% - o que já não parece um risco desprezível, dado que o auge das ações de política econômica será sentido no segundo semestre e ainda há o quadro de crise no mundo desenvolvido, que pode representar um freio adicional para a atividade do País.

Por enquanto, contudo, fontes do governo ainda consideram uma expansão de 4% neste ano factível, embora cresça a percepção de que os juros precisarão cair logo para sustentar um ritmo de expansão adequado.

Tendência. O professor de economia da USP Fábio Kanczuk considera que os indicadores apontam para uma expansão mais próxima de 3% para a economia brasileira em 2011. Segundo ele, o IBC-Br mostra a desaceleração em curso, mas o economista entende que é prematuro já se falar em redução da taxa Selic. "A tendência é o BC parar de subir o juro agora e derrubar a taxa no ano que vem", disse.

O economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, reconhece que o IBC-Br veio baixo, mas avalia que é cedo para se sacramentar um quadro de efetiva tendência de desaceleração. Segundo ele, também ainda não é possível dizer que a desaceleração é suficiente para levar a inflação à meta. Ele espera, por exemplo, que a produção industrial de julho tenha alta de 2% e os números do comércio não indiquem uma desaceleração tão forte.

Para o economista-chefe do Crédit Agricole Brasil, Vladimir Caramaschi, o indicador dá força para uma interrupção na trajetória de alta da Selic. Mas ele também acha prematuro se falar em corte da taxa, hoje em 12,50% ao ano. /COLABOROU NALU FERNANDES