Título: Crise volta a assustar e bolsas desabam
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2011, Economia, p. B1

Sinais de fraqueza da economia dos EUA e preocupação com a dívida dos países europeus provocaram queda de 3,52% do índice Bovespa

A preocupação com a fraqueza da economia americana e com a capacidade de países europeus honrarem suas dívidas voltou a dominar o mercado financeiro global. Bolsas de valores do mundo todo encerraram a quinta-feira com pesadas perdas, investidores correram para a segurança dos títulos públicos americanos e o dólar se valorizou em relação a praticamente todas as outras moedas.

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) caiu 3,52%, para 53.134 pontos, e o dólar avançou 1,20% ante o real, cotado a R$ 1,602. Nos Estados Unidos, o Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York perdeu 3,68% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 5,22%.

Na Europa, o Índice FTSE, da Bolsa de Londres, desvalorizou 4,49% e o DAX, de Frankfurt, 5,82%. Os juros pagos pelo título do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos alcançaram 2,083%, um recuo em relação ao dia anterior (2,157%). Esses juros caem conforme aumenta a demanda pelos papéis, o que costuma ocorrer frequentemente em dias nervosos como ontem.

Um desavisado pode se perguntar o que mudou de quarta-feira para ontem. A rigor, pouca coisa. O noticiário e a safra de indicadores ruins da quinta-feira apenas repetiram o que já se viu em outros dias. Mas, enquanto soluções não forem encaminhadas, os nervos continuarão à flor da pele. Isso se traduz em expressiva volatilidade.

Ontem, o banco Morgan Stanley revisou suas previsões para o crescimento dos EUA e da zona do euro e disse que os novos cálculos indicam que as duas regiões estão se aproximando perigosamente de uma recessão. "As principais razões para a redução nas projeções, além dos indicadores econômicos decepcionantes, são erros políticos nos EUA e na Europa somados à perspectiva de mais aperto fiscal em 2012", disse o banco, em relatório.

A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro foi cortada para 1,7% neste ano e 0,5% em 2012. Anteriormente, as projeções do banco eram de expansão de 2,0% e 1,2%, respectivamente. Para os EUA, a estimativa saiu de 4,2% para 3,9% em 2011 e de 4,5% para 3,8% em 2012.

Outro alerta que mexeu com os mercados foi feito por Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia, que afirmou que a União Europeia e o euro estão "à beira do precipício" (referindo-se às dívidas da região). Ele também criticou as propostas para melhorar a governança da zona do euro apresentadas pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy.

Nos EUA, os indicadores foram uma âncora a qualquer possibilidade de recuperação dos preços. O pior deles foi a atividade industrial divulgada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) da Filadélfia, que desabou para -30,7 em agosto, de 3,2 em julho. O Barclays Capital explicou que "o histórico desse dado mostra que uma leitura abaixo de -20 é rara fora de recessões". / CLÁUDIA VIOLANTE E AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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