Título: Pela primeira vez, PF não fez interceptação telefônica
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2011, Economia, p. B7

Embora tenha desmantelado de uma vez um dos maiores esquemas de sonegação já constatados no País, a Operação Alquimia foi a primeira grande ação da Polícia Federal a não fazer uma interceptação telefônica sequer. A PF usou um software de inteligência policial que fez o cruzamento de dados pessoais com movimentações financeiras e empresariais.

Segundo um delegado que participou da operação, foi possível fazer a análise objetiva de toda a rede de membros da organização, decifrando hierarquia, ramificações nacionais e internacionais e o modus operandi do grupo. O programa analisou 2 mil empresas e filtrou cerca de 300 com envolvimento no esquema de fraudes. Depois disso, foi realizada campana e vigilância nos alvos e a análise de dados.

Dos 31 mandados de prisão temporária expedidos pela Justiça Federal de Minas Gerais, restam 8 a serem cumpridos. Um dos fugitivos é o empresário Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, dono do Grupo Sasil e da ilha de dois hectares apreendida no litoral de Salvador. Ele é apontado como o cabeça da organização criminosa que desviou R$ 1 bilhão da Receita Federal em cinco anos, mediante fraudes na comercialização de insumos para a indústria química.

A PF informou que estuda pedir à Interpol a inclusão do nome dele no sistema chamado difusão vermelha internacional, para que o executivo seja capturado e extraditado ao Brasil, caso seja localizado em algum país membro das Nações Unidas (ONU). Segundo se apurou, ele viajou para a Europa três dias antes da operação, desencadeada anteontem, mas era um compromisso antigo e não teria havido vazamento de informação.

Os cruzamentos feitos pelo sistema de inteligência da PF permitiram constatar que o grupo de fraudadores funcionava como uma empresa moderna, com hierarquia, distribuição rígida de funções e controle dos lucros obtidos com o crime. Ao todo, o grupo era integrado por 146 pessoas, relacionadas para dar esclarecimentos. Além de "seis cabeças" (ou sócios), a organização tinha 13 gerentes setoriais e dezenas de operadores e operários.

Em torno da holding Sasil, orbitavam cerca de 300 empresas associadas, parte delas sediadas no exterior, sobretudo nas Ilhas Virgens Britânicas. A PF e o Ministério Público começaram a negociar o uso da delação premiada com um dos cabeças, como forma de amarrar o rol de provas contra o grupo. Entre os interrogados, 12 já confessaram participação nas fraudes.