Título: BC tem prejuízo de R$ 44,5 bi com reservas no 1º semestre
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2011, Economia, p. B4

Perda resultou da alta do real e da diferença entre a rentabilidade das reservas e os custos do BC para comprar dólares

As reservas internacionais provocaram no primeiro semestre deste ano prejuízo de R$ 44,5 bilhões para o Banco Central, de acordo com dados do balanço do primeiro semestre da autoridade monetária, aprovado ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O prejuízo é dividido em duas partes. A primeira, de R$ 15,7 bilhões, se refere à diferença entre a rentabilidade das reservas e o custo dos recursos utilizados pelo Banco Central para comprar dólares. A segunda parte é decorrente da perda de valor em dólar das reservas, por causa da valorização cambial de 6,31%.

Apesar dessa forte perda, o BC anunciou que teve um lucro de R$ 12,2 bilhões no primeiro semestre, o melhor resultado para o período desde 2003, basicamente em razão das operações de compra e venda de títulos públicos.

O motivo para isso é que, como a acumulação de reservas é uma política de governo, ficou acertado que o Tesouro Nacional cobre integralmente eventuais prejuízos acarretados por essa operação.

Dessa forma, apesar da perda bilionárias com as reservas, o balanço do Banco Central também contém uma receita extra de mesmo valor, por causa do aporte previsto para o Tesouro realizar.

Segundo o Banco Central, o custo de captação de recursos das reservas internacionais foi de 4,56% no primeiro semestre de 2011. O diretor de Administração do Banco Central, Altamir Lopes, informou que essa despesa é significativamente menor do que a taxa Selic, porque inclui outras formas de obtenção de recursos pelo Banco Central para a aquisição de dólares, como depósitos compulsórios, que têm menor custo do que os títulos públicos.

Já a rentabilidade das reservas no primeiro semestre foi de apenas 1,55%. A diferença entre os dois números é que levou ao prejuízo de R$ 15,7 bilhões das reservas, que, adicionando-se o impacto da valorização do real, chegou a R$ 44,5 bilhões no primeiro semestre.

Bamerindus. Na divulgação do balanço, o Banco Central também informou que chegou a um entendimento com o extinto Banco Bamerindus, que tinha uma dívida de R$ 2,7 bilhões com a autoridade monetária. Pelo acordo, o banco ganha desconto de multa e juros e parcela em 180 meses o valor de R$ 2,5 bilhões. A primeira parcela já foi paga em 12 de agosto, quando o acordo foi fechado.

O acerto permitirá uma redução da dívida líquida do setor público em agosto, em valor que não foi divulgado pelo Banco Central. O entendimento não encerra o processo de liquidação extrajudicial da instituição.

Corretoras. O Conselho Monetário Nacional também adotou ontem medida que deve reduzir custos de corretoras, financeiras, distribuidoras e cooperativas de crédito.

A nova regra permite que essas instituições obtenham recursos do Banco Central dentro de um mesmo dia, deixando como garantia montante equivalente em título públicos. Assim, elas poderão fazer pagamentos diários sem necessariamente ter de se desfazer de seus ativos.

Antes, só os bancos tinham acesso a esse "redesconto" diário, e as demais instituições tinham de recorrer a eles para obter dinheiro por um dia, no que eram cobrados.

A operação é livre de risco para o Banco Central porque, para tomar o dinheiro, a instituição precisa deixar em troca títulos públicos no mesmo montante.