Título: Disputa vai estimular novas concessões
Autor: Gonçalves, Glauber ; Mautone, Silvana
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2011, Economia, p. B1-3

Interesse no Aeroporto de São Gonçalo do Amarante deve levar mais empresas aos leilões dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília

A corrida de quatro grupos para concorrer à concessão de São Gonçalo do Amarante deve estimular mais empresas pela privatização dos Aeroportos de Cumbica (Guarulhos), Viracopos (Campinas) e Juscelino Kubitschek (Brasília), apontam especialistas.

O plano do governo é finalizar essas outras concessões até o fim do ano para não correr o risco de o País passar por constrangimentos durante a Copa do Mundo de 2014.

"O interesse (em São Gonçalo do Amarante) foi grande e o ágio foi expressivo, principalmente por se tratar da concessão de um aeroporto que não existe. É um aeroporto que está em obras há muitos anos e tem meia pista pronta. Até a viabilidade é discutida. O sinal disso para os leilões marcados para o fim do ano é muito positivo", avalia Guilherme Lopes do Amaral, especialista em Direito Aeroviário e sócio do Aidar SBZ Advogados.

Os outros três aeroportos vão precisar apenas de obras de ampliação e de modernização. Além disso, o fato de já estarem em operação há muitos anos permite que os interessados estimem com maior precisão a demanda.

Entre especialistas, a percepção é de que as grandes operadoras internacionais não participaram do leilão de São Gonçalo do Amarante para guardar munição para as próximas concessões.

"O aeroporto que já está pronto garante receita imediata para as empresas, ao contrário de Natal, onde serão necessários três anos de investimentos para o aeroporto entrar em funcionamento", afirma o presidente da Associação Brasileira dos Empreiteiros de Obras Públicas, Luciano Amadio, cuja empresa, a CVS, estava entre as que desistiram da disputa na última hora.

Segundo ele, o mercado tem interesse não só nos três leilões já confirmados como em vários outros aeroportos que também precisam de investimentos em ampliação. Amadio cita os casos de Congonhas, em São Paulo, Galeão e Santos Dumont, no Rio, e os aeroportos de Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Recife e Salvador.

O sucesso de São Gonçalo do Amarante, no entanto, não significa que o governo não precisará trabalhar para atrair investidores para as próximas concessões, diz o especialista em aeroportos Erico Santana. Na avaliação dele, as autoridades do setor terão de sentar com as empresas e renegociar a alteração de regras que afastaram grandes operadoras, como a alemã Fraport.

Além disso, um dos pontos que provocam dúvidas nos investidores, afirma, é o papel que a Infraero desempenhará nas próximas concessões.

O plano do governo é de que a estatal tenha participação de até 49%. Ao mesmo tempo, a empresa vai integrar a recém-criada Autoridade Portuária, uma espécie de "síndico" dos aeroportos. "Isso não está muito claro e pode diminuir a vontade do mercado de entrar no Brasil", diz Santana.

O especialista alerta ainda que, para tornar as concessões de São Paulo mais atrativas, o governo precisaria dar garantias aos grupos interessados de que não vai permitir a construção de outro aeroporto na região.

Nos últimos meses, as construtoras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez têm tentado emplacar no governo o projeto de um aeroporto erguido em regime privado na Grande São Paulo.

Comemoração. O leilão de concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante foi comemorado ontem por gestores públicos e empresários do Rio Grande do Norte. O terminal é considerado por eles a redenção para a economia do Estado.

A governadora Rosalba Ciarlini, que acompanhou o leilão na Bovespa, desembarcou ainda na tarde de ontem em Natal e disse que a concorrência provou o quanto os empresários acreditam no potencial do Rio Grande do Norte. "Os R$ 170 milhões superaram as expectativas", disse a governadora. Segundo ela, o aeroporto terá não apenas uma participação econômica forte no Estado, mas também social, com a criação de empregos.

"Esse aeroporto vai trazer muitos empregos, muitas oportunidades para o Rio Grande do Norte e vai ser o diferencial de toda estrutura aeroportuária do Brasil", analisou. Ela acredita que as obras do aeroporto estarão concluídas antes da Copa do Mundo de 2014, quando Natal será uma das sedes do mundial. / COLABOROU ANNA RUTH DANTAS