Título: Movimento tem tom maoista e anárquico
Autor: Gabeira, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2011, Internacional, p. A15

Um exame de slogans e desenhos indica que o movimento dos estudantes chilenos se inclina para a esquerda, tem um componente maoista, mas também uma grande inclinação anárquica. Na porta da Universidade do Chile, uma grande banca vende livros ao público e duas jovens mantêm tabuleiros anunciando lanches de carne de soja.

Como em toda sua história recente, os chilenos estão divididos. Nos comentários de leitores, muitos acusam os estudantes de ser comunistas e os responsáveis pela crise. Com a sequência de manifestações, algumas praças como a Bachedano foram fechadas com grades. As portas dos principais bancos ganharam placas de madeira, protegendo os vidros e, na esquina da Grécia com Macul, onde ocorrem manifestações, a polícia estacionou um blindado permanente, diante do McDonald"s.

Quando se pergunta pelo trabalho da Concertación, a coalizão de esquerda que governou o Chile por 20 anos, os estudantes não têm uma explicação para o impasse. No momento, pressionam a ex-presidente Michele Bachelet a tomar posição diante da crise. O governo dela ampliou de 10% para 30% o peso das escolas técnicas no orçamento.

O que os setores da direita pensam sobre gratuidade também tem como base análises econômicas. Eles acham que aumentando o peso dos gastos com a universidade outros setores pagarão por isso. Outro problema - além de melhorar a qualidade do investimento - tem sido controlar as universidades particulares que vendem diplomas, como ocorre em outros países do continente. Os universitários colocaram como centro da luta não só a gratuidade como também o ensino de qualidade. Só o diálogo vai esclarecer melhor os pontos de cada um e levá-los a uma síntese.