Título: Mercado prevê crise longa e refaz projeções
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2011, Economia, p. B1

Metade do mercado aposta em queda dos juros até fim de 2012, diz pesquisa Focus

A percepção de que a crise deverá ser longa começa a mudar o radar dos analistas para o juro básico da economia em 2012. Pesquisa semanal do Banco Central mostra que uma parte mudou de opinião. Na 6ª-feira, quando a pesquisa foi fechada, o mercado estava dividido quanto ao patamar da Selic no fim do próximo ano: cerca de metade apostava em juros estáveis e a outra já trabalhava com taxa menor.

Para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, os agentes consultados são unânimes: o ciclo de alta iniciado em janeiro será interrompido e o juro seguirá nos atuais 12,5% ao ano.

A pesquisa Focus divulgada ontem trouxe mais um sinal de que o mercado incorporou à economia brasileira o entendimento de que a crise deverá manter fria a atividade dos Estados Unidos e Europa - e, por consequência, desacelerar a expansão doméstica - por mais tempo que o previsto. Para reagir a esse quadro, o levantamento feito com cerca de 80 instituições financeiras mostra que a aposta para o nível da Selic no fim de 2012 caiu de 12,50% para 12,38%.

Normalmente, o Copom faz ajustes no juro com movimentos de, pelo menos, 0,25 ponto porcentual. A mediana "quebrada" na pesquisa do BC sinaliza, portanto, divisão entre aqueles que creem em manutenção do juro em 12,5% e os que apostam em redução para 12,25% no fim do próximo ano.

"O número mostra que os agentes econômicos reconhecem que a economia norte-americana deve demorar muito para se recuperar. Isso pode gerar a necessidade de uma reação interna, que poderia ser com a redução dos juros", explica a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara. A própria pesquisa mostra isso: a previsão para a expansão da economia brasileira em 2012 caiu de 4% para 3,90% na primeira retração após cinco semanas seguidas de quadro inalterado.

Thaís reconhece que a piora das últimas semanas colabora para um cenário que aponta para o corte dos juros, mas ela mantém a previsão de que a Selic estará em 12,50% no fim de 2011 e 2012.

A pesquisa do BC mostrou também que é unânime a aposta de que o juro não mudará na reunião do Copom desta semana. Apesar disso, o anúncio das medidas fiscais feito ontem levantou a especulação de que um corte poderia ser anunciado nas próximas horas. "O esforço fiscal é positivo e abre as portas para juro menor no longo prazo. Mas o efeito na Selic não é imediato, não vai ser amanhã", diz Thaís. A partir de agora, segundo ela, o quadro externo será cada vez mais importante para um eventual corte do juro.

Para a inflação, a pesquisa do BC mostrou estabilidade das previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 5,20% em 2012.