Título: Para analista, meta de 4,5% virou piso da inflação no Brasil
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2011, Economia, p. B1

Por descumprir tão frequentemente o centro da meta de inflação, o Banco Central acabou por consolidar entre os agentes econômicos o sentimento de que o centro da meta, de 4,5%, transformou-se no piso da inflação brasileira, segundo especialistas ouvidos pela Agência Estado. Esse comportamento pode tornar mais rígidos os preços de bens e serviços e dificultar o fim da indexação no Brasil, pela qual os reajustes de contratos, como aluguel, sempre embutem a inflação passada.

Em levantamento feito pela LCA Consultores, dos 67 meses desde que o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou, em janeiro de 2006, que o BC passasse a mirar um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,5%, com intervalo de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo, em 40 meses o IPCA ficou acima desse objetivo, no acumulado em 12 meses.

De agosto de 2010 a julho deste ano, a taxa acumulada em 12 meses do IPCA ficou acima de 4,5% em onze meses, atingindo a meta pela última vez apenas em agosto de 2010. "Até também por estar tabelada em 4,5% há tanto tempo, a meta passou a se constituir no piso da inflação", afirmou Heron do Carmo, professor da USP e presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo. Para ele, uma das consequências de o centro da meta ser percebido como o piso da inflação pelos agentes econômicos é forçar o BC a aumentar juros. "Até porque, isso se constitui num elemento de formação de expectativas".

Os cem economistas ouvidos pela pesquisa semanal Focus do BC projetam um IPCA de 6,31% neste ano e de 5,20% em 2012, conforme a mediana das expectativas. Já em relação à taxa básica de juros, levantamento do AE projeções com 72 instituições financeiras aponta para uma unanimidade da aposta de uma taxa Selic estável em 12,50% ao ano ao final da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira. Para o fim do ano, economistas de 51 instituições estimam que a Selic permanecerá em 12,50%.