Título: Mudança vai obrigar Petrobrás a importar mais gasolina
Autor: Mendes, Karla
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2011, Economia, p. B6/7

Atualmente, a gasolina está preparada para receber 25% de álcool; empresa ainda não fala em alta do preço

A diminuição da proporção de álcool na fórmula vai obrigar a Petrobrás a comprar mais gasolina no exterior. "Com essa redução, teremos de importar mais gasolina para suprir o mercado. Mas, só teremos uma estimativa amanhã (hoje)", disse o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa.

Pelos cálculos de especialistas, se a redução do etanol fosse hoje, poderia haver uma ligeira queda de preço na bomba, já que o álcool sai das usinas a R$ 1,30 o litro, enquanto o preço da gasolina na refinaria está em R$ 1,05.

Costa preferiu não falar sobre preço ao consumidor, dizendo que a Petrobrás só responde pelo preço na porta da refinaria, de onde a gasolina sai pura. As distribuidoras, que abastecem os postos com a fórmula já misturada, formam o preço atacado e os postos revendedores dão o preço no varejo.

No início do mês, o diretor da Petrobrás já havia anunciado que a estatal iria importar mais 630 mil litros de gasolina, o que elevaria o total importado no ano para 3,1 milhões de litros. Costa informou, ainda, que a queda do álcool na mistura só irá ocorrer a partir de 1.º de outubro porque é necessário ajustar o estoque das refinarias (à exceção de Manguinhos, todas as demais são propriedade da Petrobrás).

Hoje, a gasolina está preparada para receber 25% de álcool. Uma mudança no porcentual exige também uma adequação no tipo da gasolina que sai da refinaria. Mas, segundo o diretor, isso não representa um custo adicional, apenas um ajuste técnico.

O consumo de gasolina tem crescido a um ritmo muito forte no País, com aumento médio este ano de 6%, sobre uma base já elevada, de 10%, de 2010.

A redução da mistura de anidro na gasolina deve criar novas incertezas no setor de combustíveis, de acordo com especialistas do setor sucroalcooleiro. O presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari, considerou a redução desnecessária porque o setor está importando etanol para equilibrar o abastecimento.

"Esta importação não traz ônus fiscal para o País porque o etanol internacional está mais barato que o do mercado interno, o que não acontece com a gasolina que a Petrobrás vai ter de importar a mais", disse o executivo.

Mesmo que não houvesse redução da mistura de álcool, o crescimento forte da demanda já poderia levar a estatal e elevar suas importações de derivados.

De acordo com Costa, as refinarias estão operando no limite de sua capacidade, sem conseguir acompanhar o crescimento do consumo. A Petrobrás toca quatro grandes projetos de novas refinarias, mas todas com início de operação previsto para a partir de 2013.

Segundo o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, o setor de distribuição está ainda avaliando as consequências da medida. "Acredito que a maior preocupação neste momento é como a Petrobrás irá conseguir esta gasolina extra", disse.

Humberto Farias, presidente da Renuka do Brasil, um dos dez maiores grupos sucroalcooleiros do País, diz que de alguma forma a redução já era esperada pelo setor, em função da forte quebra na safra de cana de açúcar registrada este ano. A safra deve ficar abaixo das 500 milhões de toneladas no Centro-Sul.

Farias disse que a oferta e demanda do etanol estão sendo monitorados e uma decisão de redução pode ter vindo deste monitoramento. Ele acredita, contudo, que assim que um volume maior de cana estiver disponível, a mistura volta a subir.