Título: Seguradora para investimento busca clientes no Brasil
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2011, Economia, p. B14

Para agência do Banco Mundial, País deixou de oferecer risco para investidores e tem potencial de US$ 1 bilhão para projetos no exterior

Há pouco mais de dez anos, o Brasil estava no topo da lista dos países considerados de risco político para investimentos estrangeiros. Chegou a responder por cerca de 20% da carteira de seguros da Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (Miga, na sigla em inglês) do Banco Mundial. Hoje, representa menos de 3% e inicia processo inverso.

Em vez de as empresas estrangeiras buscarem proteção para investimentos no País, são as companhias brasileiras que contratam seguros para projetos externos, principalmente em países da América do Sul e África.

Esse interesse trouxe ao Brasil, nesta semana, a diretora de operações da Miga, Edith Quintrell, para reuniões com grandes corporações e representantes do Ministério da Fazenda, do Itamaraty e do Banco Central.

"As companhias brasileiras estão se internacionalizando e olhando para oportunidades externas, especialmente em outros países em desenvolvimento", constata Edith. À frente do órgão há quatro anos, ela está surpresa com as mudanças no Brasil, onde havia estado há cerca de 20 anos.

A Miga calcula um potencial de US$ 1 bilhão em investimentos brasileiros nos mercados emergentes nos próximos dois a três anos, com foco nas áreas de mineração, construção civil, infraestrutura e serviços financeiros. O organismo é uma espécie de agência de seguros contra riscos políticos para investimentos diretos de empresas e governos em países emergentes.

A cobertura envolve incapacidade de conversão de moedas, expropriação, confisco ou nacionalização da empresa, prejuízos causados por guerras, conflitos e atos terroristas, quebra de contratos e perdas provocadas pela incapacidade dos governos em honrar obrigações financeiras.

A agência também ajuda investidores a buscarem fundos para os projetos e realiza análises de riscos, levando em conta o desenvolvimento que levará ao país em termos econômicos, sociais e de sustentabilidade.

Negociação. Uma das vantagens da Miga em relação a companhias independentes é que, por ser vinculada ao Banco Mundial, promove intensa negociação entre as partes para buscar uma solução antes de se chegar ao pagamento do prêmio, que depois vai gerar ação de reembolso contra o governo envolvido.

"Nenhum governo quer ter problemas com o Banco Mundial, pois, uma vez envolvido em processo, não serão recomendáveis novos investimentos nesse país", explica Edith, que antes de coordenar a Miga trabalhou por 16 anos na Overseas Private Investment Corporation (Opic), agência mantida pela Casa Branca para estimular projetos de empresas americanas no exterior.

A Miga foi criada em 1985 e assinou o primeiro contrato de seguro três anos depois. Um dos primeiros clientes no Brasil foi o grupo Parmalat, que em 1995 pegou empréstimo do Bank of America e quis se prevenir de possível falta de divisas no País.

De acordo com Edith, historicamente a agência manteve apólices no valor de US$ 1,8 bilhão em valores segurados para grupos de investidores no Brasil, o equivalente a cerca de 20% da carteira da Miga, estimada atualmente em US$ 9,7 bilhões. Hoje, os valores segurados somam apenas US$ 225 milhões. "A percepção de risco político diminuiu muito no Brasil, por isso os investidores já não precisam tanto o seguro", afirma a executiva.

Da carteira da Miga, cerca de 60% dos contratos são de projetos nos países do Leste Europeu (principalmente Rússia, Ucrânia e Turquia) e Ásia Central. Projetos na África ficam com 20%, na Ásia do Leste com 10% e na América do Sul com 10%.

"Nossa atuação tem sido muito positiva", avalia Edith. Desde a criação da Miga, apenas cinco projetos precisaram ser ressarcidos. Um na Indonésia, referente à expropriação de empresa de energia; no Nepal, onde uma empresa energética foi destruída em conflito local; na Argentina, envolvendo empresa do setor financeiro logo após a grande desvalorização do peso em 2001; no Quênia, onde uma plantação de cana foi destruída durante conflitos políticos; e no Madagascar, onde um hotel também foi destruído durante distúrbios civis.

O Miga não tem escritório local, mas atende interessados na sede do Banco Mundial em Brasília, pelo site e por meio de parceiros locais. Um deles é o Finenge, escritório especializado em captação de recursos com instituições financeiras de desenvolvimento. Fundado há 20 anos por Yasufico Saito - que hoje atua com o filho e sócio Richard -, o Finenge também faz análise de viabilidade. "Analisamos projetos que, somados, chegam hoje a mais de US$ 40 bilhões em investimentos", informa Saito.