Título: Fed acena com medidas de estímulo
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2011, Economia, p. B16

Em discurso esperado pelo mercado, Ben Bernanke disse que o BC americano está pronto para agir, mas não disse nem quando nem como

Em um dia de revisão para baixo da expansão da atividade dos Estados Unidos no segundo trimestre, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, apontou otimismo com o desempenho da economia em longo prazo e não entrou em detalhes sobre os instrumentos para estimular a economia, o que poderia ser um sinal de que o Fed está prestes a adotar alguma ação.

Bernanke disse que o Fed estenderá a reunião de meados de setembro para dois dias para discutir as opções que o banco central pode usar. Suas declarações provocaram inicialmente uma brusca queda de 221 pontos no Dow Jones Industrial Average. Mas, ao longo do dia, o mercado acionário acabou digerindo o enunciado de Bernanke, e esse principal indicador da Bolsa de Valores de Nova York fechou com alta de 2,5%.

O presidente do Fed fez essas declarações ao fim de uma tradicional reunião promovida pelo Banco Central de Kansas City nesta época do ano. Em 2010, na mesma ocasião, ele havia sinalizado com a segunda etapa do programa de compra de títulos do Tesouro americano pelo Fed, de US$ 600 bilhões, adotado no primeiro semestre deste ano.

"O Comitê Federal de Mercados Abertos (Fomc) vai continuar a avaliar o panorama da economia à luz das informações que forem chegando e está preparado para adotar instrumentos adequados para promover uma recuperação econômica forte em um contexto de estabilidade de preços", afirmou, numa repetição de suas últimas manifestações.

Horas antes, entretanto, o Escritório de Análises Econômicas anunciara a redução de 1,3% para 1% na variação do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no segundo trimestre. Para o primeiro trimestre, houve leve aumento, de 0,3% para 0,4%. No início de agosto, em razão dos resultados anteriores, o Fomc havia decidido preservar a taxa básica de juros de 0% a 0,25% até meados de 2013 - ou seja, por todo o período eleitoral de 2012 e início do novo mandato presidencial - para estimular a demanda por crédito para consumo e os investimentos.

Bernanke reconheceu o ritmo ainda "moderado" de expansão da economia americana. A taxa de inflação, em suas estimativas, deverá estacionar em torno de 2% nos próximos trimestres, em contraste com os temores do mercado de uma escalada de preços. Sua preocupação maior, como registrou, está no fato de 25 milhões de trabalhadores americanos terem um emprego de meio período, além dos 14 milhões de desempregados.

Em inédita mudança de tom, Bernanke criticou duramente o recente processo de decisão do Congresso sobre o novo pacote de medidas fiscais, cujo objetivo é reduzir em US$ 2,1 trilhão a dívida federal nos próximos dez anos. Embora o endividamento público atinja US$ 14,6 trilhões em agosto, esse processo esteve no centro da decisão da S&P de rebaixar a classificação de risco de crédito de longo prazo dos EUA de AAA para AA+.

Ameaça. Segundo o presidente do Fed, o processo de tomada de decisões nesse campo revelou-se "a maior ameaça à recuperação plena da economia americana" nos dias de hoje. "O país deveria estar bem servido por um processo melhor de decisões na área fiscal", advertiu.

O alerta teve como alvo os congressistas que tomarão parte de um supercomitê encarregado de discutir, entre setembro e novembro, como mais da metade do esforço fiscal de US$ 2,1 trilhões será materializado. Conforme sugeriu, os políticos deveriam estabelecer "metas orçamentárias claras e transparente junto com mecanismos para tornar esses alvos mais críveis".