Título: Sem fôlego e sem agenda
Autor: Rabello, João Bosco
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2011, Nacional, p. A14

Sem fôlego para manter a bandeira do combate à corrupção no próprio governo e o enfrentamento com sua base de sustentação política, a presidente Dilma Rousseff começa a negar a iniciativa da primeira e a se render à força da segunda. O freio abrupto à frente dos escândalos nos ministérios da Agricultura e das Cidades e a descontinuidade das apurações no Turismo, atestam que a "faxina" ficou no quintal e não vai entrar pela casa adentro.

O cenário flagra o governo sem qualquer agenda política no Congresso Nacional, onde precisa mais evitar que aprovar, o que o submete a uma base agora hostil pela abstinência de sete meses.

A vitória do governo hoje está em impedir a aprovação de matérias como a fixação de piso salarial para policiais e bombeiros; a ampliação de repasses para a Saúde (Emenda 29); a derrubada do veto de Lula à emenda dos royalties do petróleo, que reabriria a guerra entre Estados produtores e não produtores; a piora do Código Florestal e o aumento do teto salarial para todos os servidores do Judiciário.

Não há nessa pauta qualquer medida de iniciativa do Executivo e toda ela gera custos em momento de cautela diante da crise internacional. Mesmo no universo que se convencionou chamar de micro, o governo tem de significativa apenas uma esquecida proposta de extensão do ensino técnico (Pronatec).

Os programas que lançou ­ Brasil Maior (Indústria), Crescer (Microcrédito) e Combate à Miséria ­ permanecem soterrados pela repercussão dos escândalos de corrupção. Restaram as reformas tributária e política ­ o surrado manual de todo governo sem assunto.

"Se houver CPI da Carona, não sobra um aqui dentro"

Deputado André Vargas (PT-PR), sobre uso ilícito de aviões por parlamentares

Branca Leone

A sensação de paralisia decorrente do "pé no freio" do governo no enfrentamento da corrupção arrefeceu o ânimo do grupo de senadores chamados independentes que ofereceram apoio à presidente Dilma, entre eles, Jarbas Vasconcelos (PMDBPE), Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF). Eles que calculavam possível influir na "faxina", hoje se sentem mais o "exército de Branca Leone" ­ o quixotesco grupo de penitentes medievais do clássico filme italiano de Mário Monicelli, com Vittório Gassman no papel principal. Mas, como no filme, ainda insistem: se ela for em frente, atravessamos a rua e vamos ao Planalto para a resistência.

Reunião de trabalho

Uma pauta objetiva e estritamente técnica sobre o desenvolvimento do agronegócio, reuniu durante 1h30m a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) e a presidente Dilma Rousseff, no primeiro encontro das duas. Segundo interlocutores, Dilma ficou impressionada com o profissionalismo da senadora e achaque valeu a aposta.

Discutindo a relação

Depois de lançar pontes ao PSDB, flertando abertamente com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a presidente Dilma volta à sua realidade política na próxima sextafeira, no 4.º Congresso Nacional do PT. Mais que das vezes anteriores, a presidente vai precisar da intermediação de Lula para amenizar a insatisfação do partido com a condução de seu governo. O PT hoje acha que Dilma é refém da mídia e da bandeira anticorrupção, que considera uma "agenda pequena". E tem nostalgia da era Lula que, segundo a maioria, sabia fugir da agenda negativa.

Vale tudo

Já tem gente defendendo Marta Suplicy no Ministério da Educação para fazê-la desistir da Prefeitura de São Paulo em favor do ministro Fernando Haddad, o candidato do ex-presidente Lula.