Título: Crise antecipa disputa eleitoral em Campinas
Autor: Fávaro, Tatiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2011, Nacional, p. A14

Com cenário instável pela sucessão de escândalos e troca-troca no comando, os partidos já articulam candidatos para 2012

Um cenário político de total destruição. Essa é a imagem que líderes e especialistas veem em Campinas depois de quatro meses de denúncias de irregularidades na administração municipal ­ e principalmente dos dez últimos dias de troca-troca no comando da cidade. Depois de uma sessão de 44 horas na Câmara Municipal, o prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT) foi cassado. Na terça-feira, seu vice, Demétrio Vilagra (PT), tomou posse. Acusado pelo Ministério Público de formação de quadrilha, desvio de recursos públicos e fraude em licitações, o petista mal chegou ao 4.º andar do Palácio dos Jequitibás e, na quarta-feira, foi também afastado pela Câmara. Na quintafeira, porém, obteve na Justiça liminar que o manteve no cargo.

A guerra continuou. Na sextafeira, enquanto o presidente da Câmara e terceiro na linha sucessória, Pedro Serafim Junior (PDT), preparava o recurso contra a liminar que barrou uma Comissão Processante contra Vilagra e impediu seu afastamento, o ex-prefeito Dr. Hélio requereu na Justiça a anulação da sessão da Câmara que aprovou seu impeachment. O recurso foi negado e a cassação, mantida. A defesa do ex-prefeito ainda vai recorrer ao Tribunal de Justiça na tentativa de reconduzi-lo ao cargo.

Articulações. Com esse cenário instável, os partidos já articulam candidatos e alianças para a eleição de 2012. O deputado Jonas Donizette (PSB) surge como favorito na corrida eleitoral. Radialista e popular como Dr. Hélio, Donizette já foi candidato a prefeito de Campinas duas vezes ­ ficou em quarto lugar na disputa de 2004 e em terceiro, em 2008. Em 2010, elegeu-se deputado federal com 162,1 mil votos.

"O PT e o PSDB, os dois partidos mais organizados e com lideranças mais fortes, foram abalados na história política da cidade. Os substitutos de seus líderes nunca estiveram à altura dos titulares. Isso permitiu a ascensão de Dr. Hélio", avalia o cientista político da Unicamp Valeriano Costa. "O cenário está aberto outra vez e Jonas Donizette se apresenta como uma liderança semelhante à que foi Dr. Hélio, uma liderança independente."

Para Costa, esse é um padrão ruim, pois produz "alianças mais frouxas, em que os aliados são mais pragmáticos e volúveis", e saem facilmente do acordo, como foi o caso de Dr. Hélio.

Com trânsito fácil entre as legendas, Donizette diz que tem conversado com lideranças partidárias, sobretudo o PMDB. "As coisas estão acontecendo de forma natural, principalmente porque já disputei as duas últimas eleições", disse. O presidente do PMDB campineiro, Arnaldo Salvetti, confirmou as conversas com o deputado, mas disse que o partido não descarta a hipótese de lançar candidato próprio.

O nome natural do PSDB para 2012 é o de Carlos Sampaio, derrotado na disputa contra Toninho do PT e nas duas eleições em que concorreu com Dr. Hélio. A presidente do partido em Campinas, deputada Célia Leão, apontou ainda o vereador Artur Orsi como "liderança diferenciada". Orsi foi o autor do pedido de cassação de Dr. Hélio e deve capitalizar o feito politicamente.

Depois de Izalene Tiene, o PT ­ que abriu mão de lançar candidato em 2008 para apoiar Dr. Hélio ­ voltou ao poder na última semana. Mas não como planejava, pois o objetivo era eleger o sucessor do pedetista em 2012. Com a crise política e o desmantelamento da aliança que levou Dr. Hélio ao poder, porém, o petista Vilagra assumiu a prefeitura. Mas permanece no cargo graças a uma liminar, pois está sob o julgamento da Câmara, que pode tirar-lhe o mandato.

Desafio. O presidente do PT local, Ari Fernandes, reconhece que o trabalho será dobrado para entrar na disputa de 2012. "As pessoas estão decepcionadas e há uma leitura de que qualquer pessoa que estava no governo está afundada na lama. Temos de reconhecer que não temos poder de comunicação para colocar a nossa visão, que não é essa", afirmou.

O nome de Vilagra era o mais forte para sucessão e quase consenso na legenda local, mas ficou arranhado. "Muito provavelmente aparecerão outros nomes", amenizou Fernandes.

O PDT local também vai ter de se recompor para entrar na disputa. Dr. Hélio, ainda presidente do partido em Campinas, deve ser afastado do comando da sigla. Quem assumirá interinamente será o presidente estadual do PDT, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. "Nossa relação com o Hélio sempre foi ruim. Embora na última semana tenhamos soltado uma nota de apoio, a direção estadual vai se reunir na terça em São Paulo para discutir quais caminhos o partido deverá tomar na cidade", afirmou o deputado.

Para lembrar

Instabilidade política virou marca da cidade Embora seja a terceira maior cidade do Estado de São Paulo, com mais de 1 milhão de habitantes e 762 mil eleitores, Campinas sofre há anos com a instabilidade política.

Na gestão do petista Jacó Bittar (1989-1992), o vice e secretário de Obras Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, denunciou o prefeito por superfaturamento de contratos. Bittar deixou o PT. Em 1996, no exercício do segundo mandato, o prefeito Magalhães Teixeira (PSDB) morreu vítima de câncer. Ele foi a última liderança pujante no tucanato campineiro.

Em 1999, a Câmara Municipal abriu uma Comissão Processante para apurar supostas irregularidades na administração de Chico Amaral (PP), mas o processo que poderia levar o prefeito ao impeachment foi arquivado.

Um ano depois, a cidade elegeu Toninho do PT, com 59,7% dos votos válidos. Com nove meses de governo, o petista foi assassinado em 11 de setembro de 2001, um crime ainda não esclarecido.

Com o PT e o PSDB sem lideranças, o então deputado federal Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio, aproveitou o vácuo político para sua ascensão, candidatando-se, em 2004, à prefeitura. / T.F.

Terra arrasada

Ari Fernandes, presidente do PT de Campinas

"As pessoas estão decepcionadas e há uma leitura de que qualquer pessoa que estava no governo está afundada na lama. Temos de reconhecer que não temos poder de comunicação para colocar a nossa visão, que não é essa"