Título: Empresas chinesas são as que têm maior interesse no País
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2011, Economia, p. B1

Previsão de alta demanda do mercado brasileiro, filiais locais lucrativas e [br]generosos subsídios oferecidos por municípios e Estados atraem as montadoras

Maior mercado para a Fiat, segundo maior para a Volkswagen e terceiro para a General Motors, o Brasil vem batendo recordes de vendas e este ano deve atingir 3,7 milhões de veículos. O Produto Interno Bruto (PIB), que cresceu 7,5% em 2010 e deve desacelerar para cerca de 4%, ainda assim é atrativo para empresas de mercados estagnados como Europa, Japão e Estados Unidos.

Além de modelos compactos mais baratos, o País atrai fabricantes de carros de luxo, como a alemã BMW, que deve anunciar uma fábrica nos próximos meses. A japonesa Suzuki já escolheu Goiás para produzir o jeep Jimny, importado hoje por R$ 55 mil. A previsão é que o mercado brasileiro consuma 6 milhões de veículos até 2020.

Outro atrativo para as montadoras é que as subsidiárias locais costumam ser lucrativas, às vezes mais do que as próprias matrizes. Também há generosa oferta de subsídios dos municípios e Estados para receber as fábricas, que, na visão dos governantes, geram empregos e desenvolvimento tecnológico.

As empresas chinesas são as mais interessadas em fincar raízes no País. Além das que já anunciaram investimentos, estão na lista de interessadas Geely, BYD, Sinotruk, Foton, Great Wall e Haima/Changan. Para alguns analistas, o interesse tem a ver com a semelhança dos mercados, com ênfase em carros mais baratos e legislação menos rígida em questão de segurança.

Na opinião do gerente sênior da PricewaterhouseCoopers, Ricardo Pazzianotto, a chegada de novas fábricas no Brasil e na China tem em comum o atendimento ao mercado interno. "A maioria dos novos investimentos é para atender à demanda doméstica, embora, no caso do Brasil, também há expectativa de exportação para países da região, quando o câmbio for mais favorável."

Estudo da PwC mostra que a capacidade produtiva mundial vai passar de 75 milhões de veículos ao ano para 104 milhões em 2017. Países emergentes - que este ano vão produzir mais carros que os maduros -, serão responsáveis por 80% da expansão.

A Ásia participará com 60% do crescimento, com a China contribuindo com 38,5%. A contribuição da América do Sul será de 10%, sendo 6,4% do Brasil. América do Norte e Europa praticamente vão repor capacidade perdida durante a crise.

A China abriga mais de 90 empresas, muitas de pequeno porte e atuação restrita. Os principais grupos operam em parceria com grandes multinacionais. Com mercado de 18 milhões de veículos, o país continua atraindo companhias internacionais. A Volkswagen e a PSA Peugeot Citroën vão construir duas fábricas e Toyota e Fiat farão mais uma cada. Já o grupo local Chery, que tem apenas uma unidade local, está construindo outras três.

A Índia está em terceiro lugar na lista dos polos atrativos, com três novas fábricas. A Rússia vai receber duas novas montadoras (Fiat e Ford), enquanto o México vai receber mais uma unidade da Honda.

Os EUA e o Japão têm previstos uma nova fábrica cada, ambas da Toyota. O grupo japonês também constrói uma segunda unidade de automóveis em Sorocaba (SP). Na Europa (com exceção da Rússia), não há nenhum projeto novo em andamento.

A chegada de novas montadoras atrai também fornecedores de componentes. A Fiat fala em convidar pelos menos 20 autopeças para se instalar em um parque industrial ao lado da fábrica de Goiana (PE).

A Toyota já tem confirmados 12 parceiros que abrirão unidades ao lado de suas instalações em Sorocaba (SP). A Hyundai terá um parque de fornecedores ao lado da linha de montagem em Piracicaba (SP) - no local, oito coreanos vão erguer suas primeiras plantas no País.

O último boom de novas montadoras ocorreu entre meados da década de 90 e nos anos 2000, com a chegada de marcas como Renault, Nissan, Peugeot, Citroën, Honda, Mitsubishi e Iveco. Da leva de novatas, chamadas de newcomers, algumas fracassaram. A Chrysler e a Land Rover fecharam as portas. A Mercedes-Benz encerrou operações da unidade de automóveis em Minas Gerais - agora reaproveitada para caminhões - e a Volkswagen deixou de produzir a marca Audi no Paraná.

Garoto-propaganda. Diante da desconfiança em relação a uma marca desconhecida, a estratégia das fabricantes chinesas para conquistar o consumidor é colar sua imagem a personalidades. A JAC, cujos veículos são importados pelo empresário brasileiro Sérgio Habib, colhe bons resultados com o garoto-propaganda Fausto Silva, da TV Globo.

A própria empresa informa que muitos consumidores chegam às lojas procurando "o carro do Faustão". Em depoimentos, compradores admitem confiar na marca, "pois o apresentador não ligaria seu nome a um produto que não fosse bom". A JAC anunciou uma fábrica para 2014.

O grupo Effa vai seguir estratégia similar. Contratou o ator e apresentador Rodrigo Faro, da Record, para divulgar os modelos da Lifan. Gugu Liberato, também da Record, será o garoto-propaganda da Effa. Pela primeira vez, o grupo iniciará, em setembro, campanha massiva para os modelos chineses. O investimento será de R$ 20 milhões.

Os filmes serão exibidos em TV aberta e haverá merchandising no programa de Faro, exibido nas tardes de sábado, e de Gugu, aos domingos. Também serão feitas inserções nos programas da Eliana, Raul Gil e Celso Portiolli, do SBT.

Eduardo Effa, presidente de Effa Motors, aposta em um enorme salto nas vendas dos modelos chineses importados pelo grupo após a campanha publicitária. Segundo a Abeiva (associação das importadoras), até julho, os licenciamentos da Effa/Hafei e Changhe somaram 5.906 unidades e os da Lifan, 1.814.