Título: Mercado teme ingerência política no BC
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2011, Economia, p. B1

Para analistas, redução do juro básico de 12,50% para 12% indica que autoridade monetária deixou em segundo plano o combate à inflação

O mercado reagiu nos negócios e nas palavras à inesperada decisão do Banco Central (BC) de reduzir o juro básico (Selic) de 12,5% para 12% ao ano. Nos ativos financeiros, a mudança significou valorização das ações em bolsa de valores, alta do dólar e queda das taxas de juros futuros. Nas avaliações verbais, o BC foi duramente criticado. Alguns chegaram a dizer que a instituição agiu conforme o que quer o governo, ou seja, privilegiar a expansão do País em detrimento do controle da inflação.

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) subiu 2,87%, puxado pelos bancos. Espera-se que, com juros menores, as instituições financeiras emprestem mais. O dólar avançou 1%, para R$ 1,61, porque o juro menor, em tese, diminui a atratividade do Brasil para investidores globais. Os juros futuros caíram ajustando-se à decisão. A taxa para outubro fechou em 11,9%, de 12,3% no dia anterior.

Também houve uma revisão generalizada nas projeções para a Selic nos próximos meses. Em relatório, o Itaú Unibanco avaliou que o BC derrubará a taxa básica em mais um ponto porcentual até o fim de 2011, ou seja, para 11% ao ano em dezembro. "Se o ambiente desinflacionário se materializar, esperamos mais dois cortes de 0,50 ponto no ano que vem, para 10%", diz o texto.

Ninguém se arriscou a traçar novas estimativas para a inflação, mas há consenso de que os índices tendem a subir em 2012. A avaliação geral é a de que a inflação deste ano já está "contratada" e ficará entre 6,1% e 6,5%.

Uma medida muito usada pelo mercado é o preço de um título emitido pelo Tesouro Nacional que remunera pelo IPCA, o índice oficial de inflação do País (é a chamada NTN-B). Por essa régua, a expectativa para o IPCA de 2012 saiu de 6,3% para 6,6%. O teto da meta estabelecido pelo governo é de 6,5%.

As queixas dos especialistas tomam por base o fato de que a inflação continua pressionada no País - nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,87%. Além disso, argumentam que a crise internacional, principal justificativa do BC para reduzir a Selic, está em momento bem diferente na comparação com 2008.

"Essa queda só se justificaria por uma crise externa aguda. Mas o que temos, hoje, é um crescimento mundial lento que ficará assim por muito tempo", disse o ex-diretor do BC Luís Eduardo Assis. "Foi uma decisão precipitada e desnecessária, que põe em dúvida a autonomia do BC."

Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, a brusca mudança do BC indica que o governo se preocupa, em primeiro lugar, com o nível do crescimento da economia e depois com a inflação.

Hoje, sai o Produto Interno Bruto (PIB) relativo ao 2.º trimestre. Houve quem dissesse, no mercado, que a redução da Selic já seria uma antecipação a um resultado pior que o esperado. A conferir. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulga o dado às 9 horas.

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