Título: Banco Central aposta em recessão mundial
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2011, Economia, p. B6

Numa decisão absolutamente sintonizada com as expectativas do governo, o Copom resolveu apostar que o agravamento da crise nos Estados Unidos, Japão e Europa afetará o Brasil. Apenas dois diretores foram contra a redução de 0,50 ponto porcentual na Selic convencidos de que os riscos inflacionários e do ritmo de atividade econômica ainda permanecem. Mesmo assim, prevaleceu a tese de que até mesmo o Brasil vai rever a estimativa de crescimento de 4% para este ano. "Vamos cair na real. O Brasil vai crescer menos que 4%. Essa estimativa será revisada", disse uma fonte à Agência Estado.

A aposta é alta e parte do princípio de que os governos dos outros países não terão força suficiente, e tampouco novos instrumentos, para alavancar a recuperação de suas economias. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tentou programa fiscal na negociação da dívida do país, e acabou "fazendo um remendo". Por outro lado, o Japão "se mantém no atoleiro" e os países da zona do euro estão longe de resolver a debilidade de suas contas públicas, na avaliação do BC.

O Brasil não está blindado e sentirá os efeitos da contração do crédito internacional, da volatilidade das bolsas e até uma crise de confiança. "Ninguém deve se surpreender. Haverá uma revisão generalizada do crescimento econômico mundial, inclusive do Brasil", afirmou essa fonte. O Copom considerou, por exemplo, que as estimativas de crescimento para economia americana cederam de 5,6% a 6% entre os meses de março e abril para cerca de 3,6%.

Mas nenhum diretor se arrisca a prever qual é o novo ritmo da economia brasileira.

A diretoria do Copom rejeita a tese de que cedeu às pressões do Planalto e joga inteiramente na deterioração do cenário internacional a principal razão para justificar o corte de 0,50 ponto porcentual na Selic, agora fixada em 12% anuais. A decisão do Copom, no entanto, reforça as análises recentes de que o Banco Central, no governo Dilma, adotou, informalmente, um duplo mandato: baixar a inflação de olho no ritmo da atividade econômica. "Nós estamos absolutamente comprometidos em trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% ao longo de 2012", garante, no entanto, a fonte. "A crise internacional está potencializando uma menor atividade econômica", acrescentou.

O BC recorreu aos sinais débeis do governo a respeito da política fiscal para justificar, no seu mais longo,comunicado ao mercado, a redução dos juros. Sua decisão, no entanto, não tomou como parâmetro o anúncio da economia adicional de R$ 10 bilhões anunciada esta semana pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.