Título: Produção industrial cresce, mas perde o ritmo
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2011, Economia, p. B11

Variação foi de apenas 0,5%, depois do tombo de 1,2% registrado em junho, de acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE

O avanço de 0,5% na produção da indústria brasileira em julho, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi insuficiente para o segmento se recuperar do tombo de 1,2% de junho. Como resultado, os analistas já cortaram pela metade a projeção feita no início do ano para o aumento na produção em 2011, atualmente em torno de 2%.

Caso a projeção se concretize, o avanço industrial este ano significará apenas 20% da expansão verificada no ano passado, de 10,5%. O crescimento acumulado nos últimos 12 meses permanece em trajetória descendente, desde outubro do ano passado, saindo de 3,7% em junho para 2,3% em julho.

Os estoques em níveis elevados e o aumento das importações estão prejudicando, sobretudo, o desempenho da indústria de bens intermediários (aço, plástico, celulose etc).

"Houve perdas dentro das atividades de metalurgia básica, extrativa, outros produtos de refino, borracha e plástico, e celulose", disse André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Intermediários. A produção de intermediários caiu novamente em julho (-0,7%), após já ter recuado 1,6% na leitura anterior. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a queda foi de 2,4%.

"O menor dinamismo no mercado interno pode levar as empresas a paralisações para manutenção, regulando a sua produção no mês corrente. Alguns setores que mostraram estoque acima do normal tiveram esse comportamento", contou Macedo.

Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o desempenho dos bens intermediários é causado pelo aumento da substituição do insumo nacional pelo importado.

"A indústria de bens intermediários pode ser considerada um termômetro da atividade industrial, na medida em que representa as compras realizadas internamente na indústria. E esse termômetro diz que a temperatura está baixa", afirmou o relatório do Iedi.

Com exceção de bens intermediários, todas as demais categorias de uso da indústria registraram expansão na produção em julho ante junho. A alta em bens de capital foi de 1,7%; bens de consumo, de 3,5%; bens de consumo duráveis, 2,9%, e os semiduráveis, 3,8%.

Na opinião do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a deterioração do cenário internacional contribui para uma perspectiva pior para a indústria. "No início do ano, muita gente trabalhava com a perspectiva de expansão entre 4% e 5% neste ano. A trajetória dos últimos meses, e que deve permanecer nos próximos, deve indicar crescimento mais próximo de 2% no ano", afirmou Vale.

O analista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada, também prevê crescimento de 2%, graças ao desaquecimento da atividade e exportações moderadas de manufaturados frente às incertezas da economia mundial. "A produção industrial deve seguir pouco dinâmica nos próximos meses", definiu.

Desaquecimento. Para o co-diretor de pesquisas para mercados emergentes da Goldman Sachs, Alberto Ramos, o baixo desempenho do setor deve colaborar para que o Produto Interno Bruto (PIB) desacelere de uma alta de 1,3% no primeiro trimestre para aumento de 0,7% entre abril e junho.

No entanto, o executivo alerta que o desaquecimento da indústria brasileira não deve dar trégua à inflação, ainda influenciada pelos setores de serviços e comércio. "De acordo com o Relatório de Inflação do Banco Central de junho, o índice está acima da meta (central) ainda em 2012", afirmou Alberto Ramos. / COLABORARAM NALU FERNANDES E RICARDO LEOPOLDO

Queda

ANDRÉ MACEDO GERENTE DO IBGE

"Houve perdas dentro das atividades de metalurgia básica, extrativa, outros produtos de refino, borracha e plástico."