Título: Incertezas crescem e o Brasil não está imune
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2011, Economia, p. B1

Antes das turbulências globais deste mês, o ambiente econômico nos países latino-americanos era melhor do que no resto do mundo, segundo o Índice de Clima Econômico (ICE) do Instituto Ifo e da FGV. O Brasil está entre os países que crescem e têm boas perspectivas que, no entanto, declinaram, sem interrupção, desde o início do ano passado.

A pesquisa é feita em 18 países, com 145 especialistas, que avaliam a conjuntura e as expectativas - se positivas, os avaliados ganham 9 pontos; se indiferentes, a pontuação é 5; e se negativas, é 1. Acima de 5 pontos, entende-se que há crescimento. Nos últimos dez anos, a marca mais alta alcançada pela América Latina foi de 6 pontos, em julho de 2010 - declinando para 5,6 pontos, em abril e em julho.

O ICE global caiu de 6 pontos, em abril, para 5,4 pontos, em julho, refletindo a gravidade dos problemas europeus. Ficou abaixo de 5 pontos no Reino Unido, nos Estados Unidos e na China - o que influi nas expectativas relativas ao Brasil, país dependente das exportações para a China. A principal exceção positiva é a Alemanha, com expectativas favoráveis tanto imediatas quanto em seis meses. Entre os Brics, a melhor posição é a da Índia, com 5,9 pontos, embora em queda.

A América Latina "continua na zona de crescimento do ciclo econômico, mas o declínio dos indicadores ao longo dos trimestres anteriores sugere um cenário mais cauteloso do que o de julho de 2010". As melhores avaliações dos últimos quatro trimestres são do Chile e do Uruguai, que ocuparam o primeiro e o segundo lugares no ICE, respectivamente. A Colômbia passou do sexto para o quinto lugar e substituiu o Brasil. Salvo Bolívia e Venezuela, todos os países da região estão crescendo.

Pioraram mais as expectativas do Brasil para os próximos seis meses: após o pico de 8,4 pontos, em outubro de 2009, caíram para 4,7 pontos, em julho. Na avaliação da situação atual, o País tem 6,8 pontos, com queda de 1,6 ponto porcentual em relação a julho de 2010. E o ICE do Brasil ficou abaixo da média histórica dos últimos dez anos. Segundo a pesquisa, "o que sustenta a avaliação positiva da economia parecem ser ainda as despesas de consumo, mas com perspectivas de piora".

A pesquisa mostra que o desaquecimento e a diminuição de investimentos no País eram previsíveis antes da euforia de 2010 - e certamente foram influenciados pelos estímulos excessivos à economia, que mais cedo ou mais tarde teriam de ser compensados por um aperto monetário.