Título: Obama anuncia plano de US$ 447 bi
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2011, Economia, p. B9

Objetivo do novo programa apresentado ao Congresso é acelerar a atividade econômica e derrubar a taxa de desemprego, hoje de 9,1%

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem o seu plano de US$ 447 bilhões para "sacudir" a atividade econômica e derrubar a taxa de desemprego, de 9,1%. O pacote foi apresentado em sessão conjunta de um polarizado Congresso americano, com um pedido aos políticos para "deter o circo e fazer algo pela economia".

Esta será a terceira tentativa de Obama de dinamizar a economia do país desde janeiro de 2009. Os outros dois planos custaram US$ 825 bilhões aos cofres públicos, sem trazer resultados expressivos. "O propósito desta Lei Americana de Empregos é simples: colocar mais pessoas de volta ao trabalho e mais dinheiro no bolso de quem trabalha. Vai criar mais empregos para trabalhadores da construção, professores, veteranos e para pessoas há muito tempo desempregadas", anunciou Obama. "Vai dar uma sacudida em uma economia parada e trazer confiança as empresas que investirem e contratarem de que haverá consumidores para seus produtos e serviços. Vocês têm de aprovar esse plano agora." Horas antes do anúncio de Obama, o presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, sinalizou com uma terceira rodada de estímulo monetário à economia americana.

A decisão deverá ser tomada pelo banco central dos EUA no dia 21. Uma das possíveis medidas é a compra de um grande volume de títulos de longo prazo do Tesouro dos EUA pelo Fed, com pagamento em papéis de curto prazo. "Nós estamos preparados para empregar aqueles instrumentos apropriados", afirmou Bernanke.

Obama teve uma calorosa recepção pelos congressistas, o que não significa a aprovação das medidas. A Casa Branca teve cuidado de incluir iniciativas já vistas com bons olhos pela oposição, como a extensão da alíquota reduzida do imposto previdenciário às parcelas das empresas, além da prorrogação do benefício aos trabalhadores, e o crédito tributário de US$ 4 mil para a empresa que contratar uma pessoa desempregada há mais de seis meses.

Obama e sua equipe mostraram-se astutos ao propor também cortes adicionais de US$ 1,5 trilhão nos gastos públicos até o próximo 25 de dezembro para acomodar mais investimentos do governo federal em obras de infraestrutura e de reforma de 35 mil escolas - ponto-chave para a geração de empregos. "Toda proposta que apresentei nesta noite já foi apoiada por democratas e republicanos no passado. Toda proposta que apresentei nesta noite será paga (sem gerar déficit). E cada proposta está desenhada para atender necessidades urgentes de nosso povo e de nossas comunidades", disse Obama.

Em seu discurso, o presidente americano repetiu quatro vezes a expressão "vocês têm de aprovar esta lei agora". Porém, a radicalização dos partidos Republicano e o Democrata, de Obama, além da antecipação da corrida eleitoral de 2012, podem prejudicar o debate. "A questão, nesta noite, é se nós vamos cumprir as nossas obrigações. Se, diante de uma crise nacional, podemos parar com o circo político e fazer algo para ajudar a economia. Se nós podemos restaurar algo da justiça e da segurança que definiram a nossa nação desde o começo", afirmou. "A eleição será em 14 meses. As pessoas que nos mandaram pra cá, que nos contrataram para trabalhar por elas, não têm o luxo de poder esperar por mais 14 meses. Elas precisam de ajuda agora", completou.

Ritmo eleitoral. A confiança de Obama não era compartilhada, horas antes do anúncio, por analistas econômicos. Para Edward Alden, sócio sênior do Council on Foreign Relations (CFR), qualquer proposta da Casa Branca será vítima do Congresso polarizado. "Os EUA estão em permanente ritmo eleitoral, o que dificulta a tomada de decisões. Nunca foi fácil colocar os dois partidos para trabalhar juntos, em cooperação, porque o cálculo eleitoral sempre foi levado em consideração pelo Congresso."

A questão-chave para a retomada de um vigoroso crescimento econômico nos Estados Unidos, segundo o economista, está nos investimentos estrangeiros diretos (IED), reduzidos nos últimos dez anos. O desemprego no país é um problema estrutural, segundo seu colega Michael Spence, exacerbado pela "implosão da demanda doméstica".

MEDIDAS

Plano de US$ 447 bilhões de Obama para estimular a criação de empregos

Infraestrutura

Criação de um banco público para financiar obras em escolas, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e rede de internet de alta velocidade. Investimento federal de US$ 100 bilhões e estímulo à atuação do setor privado.

Folha de pagamento

Prorrogação por um ano da alíquota reduzida de 4,2% para a parcela da Previdência Social do trabalhador, a ser extinta em 31 de dezembro. Crédito tributário de US$ 4 mil a cada contratação por mais de seis meses.

Seguro desemprego

Extensão dos benefícios para os trabalhadores desempregados e criação de novos programas de assistência.

Estados e municípios

Ajuda financeira aos Estados e municípios quebrados, para evitar a demissão de professores e funcionários da área de saúde.

Corte de gastos

Redução adicional de despesas federais para acomodar os investimentos em infraestrutura e os benefícios aos desempregos sem elevar o déficit público.

Supercomitê

Proposta de redução adicional da dívida pública em mais US$ 1,5 trilhão, além dos US$ 2,2 trilhões já acordados pelo Congresso.