Título: Não temos bolha, o mercado vai continuar aquecido
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2011, Economia, p. B1

O crédito imobiliário continua aumentando e a renda do brasileiro também. O mercado deve continuar aquecido. Nesse primeiro semestre, as vendas realmente desaceleraram não só em São Paulo, como também em Porto Alegre e Belo Horizonte. E a queda começou antes do agravamento da crise mundial.

Ao contrário do que aconteceu em 2008, a desaceleração desta vez foi causada por fatores internos. O que acontece é que a demanda estava muito aquecida no ano passado. A expansão do crédito dos últimos anos deu-se de forma muito rápida, o que pressionou o mercado imobiliário. Assim, além de a base de comparação ser muito elevada, os preços dos imóveis subiram muito. Não chega a ser uma bolha, pois esse termo é aplicado a casos em que o crescimento do mercado se torna insustentável e tanto a demanda como os preços desabam.

O mercado acelerado puxou também o custo de construção: o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC-M) cresceu 7,71% em 12 meses até agosto. O custo da mão de obra na construção ficou 11,13% mais caro no período.

Nosso mercado está aquecido e tende a continuar crescendo. A renda do brasileiro ainda cresce, mas o comprometimento da renda com financiamentos estabelece novos limites. O mais provável é que as famílias ficaram mais cautelosas diante do valor elevado dos imóveis. A maioria dos compradores ainda depende de crédito. E o financiamento passa a comprometer demais a renda.

É improvável que os preços caiam, mas eles não vão mais subir como vinham subindo. Mas o mercado não vai sofrer nenhuma mudança radical, a não ser que o cenário mude e haja recessão. Os dados que temos hoje mostram que as premissas continuam as mesmas dos últimos anos: o País continua crescendo em termos econômicos e demográficos. Temos oferta de crédito, emprego e renda em alta. E milhares de famílias com disposição de pagar por um imóvel novo.

É ECONOMISTA DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS