Título: Elas deram o tom da festa
Autor: Bernardes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2011, Cidades, p. 27

Dilma Rousseff não foi a única mulher de destaque no Dia da Independência. Na plateia, as moças suspiraram com o desfile dos soldados, mas também estiveram entre eles, sobressaindo nas Forças Armadas, no batalhão da PM e no comando da banda do Colégio Militar.

As mulheres compareceram em massa ao primeiro Dia da Independência conduzido por uma senhora à frente da presidência da República. E deram o tom da festa na Esplanada dos Ministérios. Aplaudiram, emocionaram-se, elogiaram e vaiaram quando bem entenderam. Acompanhadas ¿ ou não ¿ por filhos, maridos e parentes, elas não resistiram aos rapazes da cavalaria. O desfile deles pela avenida lotada tirou suspiros e gritos histéricos da multidão, além de palavras picantes e convites de alcova. Também não passaram impunes os que marcharam no asfalto, em motos e nos tanques de guerra. As calorosas demonstrações de afeto, combinadas ao sol escaldante do cerrado, só foram amenizadas com a chegada da esquadrilha da fumaça, que tirou o fôlego do povão.

"Eles estão passando tão pertinho. Quase dá para atirar uma pedra", brincou Maria Augusta Alcântara, 83 anos, moradora de Ceilândia, que chegou por volta das 6h com toda a família: três filhos, cinco filhas e os 18 netos. "Viemos de ônibus até a Rodoviária do Plano Piloto e depois foi só caminhar até aqui, na arquibancada", contou. A conversa foi interrompida pela neta Eidilene, 18 anos, que não resistiu à chegada de um grupo fardado e gritava "lindo, lindo, lindo". Foi logo acompanhada pela plateia de adolescentes. Já o irmão dela, Edemilson, 17, lançando um olhar de desprezo, falou: "É muito mais legal ver as motos, os tanques e os aviões. Têm nada a ver esses gritinhos".

Quem estava mais próximo do palanque das autoridades tentava chamar a atenção da presidente Dilma Rousseff. "Dilma, eu te amo", "Você é a maior", "O povo confia em você", eram mensagens que surgiam na multidão sempre que havia um intervalo entre uma banda e outra. Até as Forças Armadas amenizaram as relações hierárquicas para fazer uma discreta homenagem à comandante do Brasil. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Defesa, pela primeira vez na história do país, o contingente feminino ficou concentrado. As militares desfilaram destacadas dos colegas do sexo masculino. Até o ano passado, elas marchavam no meio do grupamento.

No batalhão da Polícia Militar, elas também assumiram posição de honra, comandaram a guarda e empunharam a bandeira. Na banda do Colégio Militar, uma menina, aluna tenente-coronel, substituiu o rapaz de maior posto (coronel) e foi à frente dos colegas. O público cantou os hinos Nacional e da Independência com emoção e alegria por várias vezes. O povo demonstrou grande respeito pelos veteranos da Segunda Guerra Mundial, pelos ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira e pela pirâmide humana de Brasília, com 21 componentes, que entrou para o livro dos recordes em 1997.

"Temos que homenageá-los (veteranos) muito antes que morram", afirmou o padeiro Eclésio Armindo, 32 anos. Momentos depois, ele já estava animado e sambando ao som da bateria da Escola de Samba Aruc. Eram poucos os integrantes da agremiação, mas foram suficientes para animar a arquibancada. A novidade de levar o samba para os festejos do Dia da Pátria foi bem recebida. "Não entendo porque não tiveram essa ideia há mais tempo", brincou Maria da Gloria, uma camelô que vendia chapéu. "Aí, moçada, vamos proteger a cabeça do sol", anunciava.