Título: De preto no dia da pátria
Autor: Bernardes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2011, Cidades, p. 27

A comemoração dos 189 anos da declaração de independência do país foi marcada pelo tradicional desfile militar, mas também por manifestação contra a corrupção. Nem mesmo o forte calor e a baixa umidade foram capazes de desanimar o público, estimado em quase 100 mil pessoas.

Um protesto contra a corrupção marcou o desfile de Sete de Setembro em Brasília. Sob o sol forte, uma multidão se mobilizou na Esplanada dos Ministérios para comemorar os 189 anos da declaração de independência do Brasil e para exigir o fim da impunidade. O verde e o amarelo pintados em rostos anônimos também demonstraram o orgulho dos brasilienses. As roupas pretas e os narizes de palhaço expuseram a insatisfação de 40 mil pessoas frente aos recentes escândalos políticos.

Também houve queixas no meio militar. Ex-integrantes da Aeronáutica ocuparam a arquibancada reservada aos convidados para reivindicar a reintegração à Força Aérea. Líder da Associação Nacional de Ex-Soldados Especializados da Aeronáutica (Anese) em Brasília, Marcelo Lopes, explicou que os colegas prestaram concurso e deveriam seguir carreira até o posto de suboficial. Mas, segundo Lopes, a Aeronáutica teria dispensado 12.490 deles em 2001 e, desde então, o grupo luta pela reintegração.

O sol e a seca castigaram o público, estimado em 57 mil pessoas, segundo a Subsecretaria de Operações da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, responsável pela coordenação operacional do evento. Os termômetros registraram 31,4ºC e a umidade relativa do ar ficou em 11%. Segundo a Defesa Civil, 75 pessoas receberam atendimento médico e seis delas foram encaminhadas ao Hospital de Base. Ainda assim, crianças e idosos ¿ os mais sensíveis às condições climáticas tão severas ¿ aproveitaram cada minuto da festa.

Homenagens O primeiro Sete de Setembro sob a batuta de uma mulher rendeu homenagens e atraiu admiradores da presidente Dilma Rousseff. Quem estava mais próximo ao palanque das autoridades fez de tudo para chamar a atenção dela. Nos intervalos entre uma banda e outra, ouviam-se gritos de "Dilma, eu te amo" e "É um prazer ver uma guerrilheira comandando o Sete de Setembro" vindos da arquibancada.

As Forças Armadas amenizaram as relações hierárquicas para fazer uma discreta homenagem à comandante do Brasil. Pela primeira vez na história, o contingente feminino ficou concentrado. As militares desfilaram destacadas dos colegas do sexo masculino. Até o ano passado, elas marchavam no meio do grupamento.

O tema da festa este ano ¿ Construir um Brasil que avança está em nossas mãos ¿ chama para cada um dos brasileiros a responsabilidade de transformar o país em um lugar melhor. Os atletas César Cielo e Ana Marcela Cunha carregando a tocha com o chamado Fogo Simbólico da Pátria. Cerca de 1,2 mil estudantes de escolas públicas do Distrito Federal levaram para a avenida exemplos de boas práticas, como a reciclagem. Integrantes de uma escola de samba estrearam no desfilaram de Sete de Setembro.

A cavalaria, a pirâmide humana do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, a Guarda Montada e os integrantes das Forças Armadas arrancaram aplausos entusiasmados. As adolescentes suspiraram pelos militares e tentaram chamar a atenção deles com gritos de "lindo, lindo". Os rapazes em volta torciam o nariz enciumados. Diziam que elas não haviam prestado atenção no mais importante: os veículos de guerra, a habilidade com as armas ou a condução de motos. A passagem dos veteranos da Segunda Guerra Mundial e dos ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira comoveu especialmente os mais velhos.

Mas a grande estrela da festa, mais uma vez, foi a Esquadrilha da Fumaça. As acrobacias dos aviões roubaram a cena e arrancaram aplausos, assobios, gritos e expressões de espanto. No fim do dia, o céu azul da capital foi tomado por 37 balões coloridos.

Cobra fumando A Força Expedicionária Brasileira (FEB) reuniu 25.334 homens para lutar ao lado dos aliados na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Inicialmente, era composta por uma divisão de infantaria, mas militares de todas as forças acabaram incluídos no grupo. O lema da FEB, A Cobra Está Fumando, foi uma resposta aos boatos de que era mais fácil uma cobrar fumar do que o Brasil entrar na guerra.