Título: FGC já deu R$ 7,5 bi a bancos pequenos
Autor: Silva Júnior, Altamiro ; Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2011, Economia, p. B3

Entidade que tem como objetivo proteger depósitos dos clientes assume função do BC e socorre instituições que enfrentam risco de quebra

Os bancos de pequeno e médio portes já receberam R$ 7,5 bilhões este ano para se capitalizarem e evitar problemas de solvência - levando em conta apenas as operações de socorro com ajuda do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) - entidade mantida pelos bancos para garantir os depósitos da clientela em caso de quebra de uma instituição.

A operação mais recente envolve o resgate do banco Matone, comprado pelo Grupo JBS, que recebeu em julho R$ 1,85 bilhão. O FGC emprestou cerca de R$ 850 milhões, o equivalente ao rombo encontrado nas contas do Matone, e o JBS capitalizou a instituição com R$ 1 bilhão, para fazer o novo banco funcionar.

O banco mineiro BMG será capitalizado em R$ 1,5 bilhão, principalmente para cobrir o rombo do banco Schahin, comprado em abril. Desse total, R$ 800 milhões entraram no capital dia 11. Segundo fontes de mercado, o dinheiro veio do FGC, que intermediou a negociação. O novo aporte, de R$ 700 milhões, será concluído este mês.

Discretamente, o FGC vem exercendo o papel de bombeiro que o Banco Central teve no passado, quando era preciso salvar bancos em dificuldades. A diferença é que agora o dinheiro é dos próprios bancos, que avaliam a situação, fazem as contas e assumem o risco das operações que levam adiante. O resgate do Panamericano, o maior de todos, foi autorizado pessoalmente pelos presidentes dos maiores bancos do País.

De acordo com fontes que participam dessas operações, sempre que o custo de resgatar um banco é igual ou não muito maior do que o custo de reembolsar os clientes, o FGC escolhe a operação salvamento. No caso do Morada, do Rio, a escolha era entre cobrir um rombo de R$ 700 milhões ou desembolsar com os clientes R$ 150 milhões. Nesse caso, o FGC ficou fora.

Embora não apareça na linha de frente, o BC acompanha todas as negociações. Troca informações e ideias com o FGC. Pelo menos quatro razões explicam as dificuldades dessas instituições. A primeira é que os empréstimos entre bancos ficaram mais difíceis desde a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.

O segundo ponto é a dificuldade de os bancos menores venderem suas carteiras de crédito para os grandes. As instituições maiores passaram a ser mais criteriosas após o escândalo do Panamericano. A fraude contábil, que totalizou R$ 4,2 bilhões, se concentrou na contabilização das carteiras vendidas no mercado. Em terceiro lugar, bancos pequenos e médios especializados em crédito consignado perderam espaço para os grandes, que viram no segmento um filão relevante de lucros.

Por fim, em janeiro de 2012, entra em vigor uma nova regra do BC que altera a forma como os bancos devem contabilizar a venda de carteiras de crédito. Hoje, ao repassá-las, elas podem colocar em seus balanços o valor cheio da negociação. A partir do ano que vem, o dinheiro só poderá constar no balanço depois que efetivamente tiver entrado no caixa do banco. O objetivo é que eventuais calotes sejam devidamente computados nos resultados. Os bancos já iniciaram o processo de adaptação, que evidenciou buracos em alguns.

Ajustes. Apesar dos bilhões já colocados, os ajustes devem continuar. Dados do BC referentes ao primeiro semestre mostram que dez bancos têm Índice de Basileia abaixo ou pouco acima do mínimo de 11% exigido pela autoridade monetária. Ou seja, são bancos pouco capitalizados e que vão precisar de recursos para crescer, sobretudo no crédito.

Além das operações que contaram com a ajuda do FGC - pois os bancos estavam com problemas no balanço -, bancos médios que estavam sólidos também fizeram reforço de capital. Um deles foi o Fibra, que recebeu recursos da família Steinbruch e do IFC (braço financeiro do Banco Mundial) em uma operação de R$ 240 milhões. Outro exemplo foi o banco Indusval, que fechou em março um aporte de R$ 200 milhões.

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