Título: Já está na hora de mudar o modelo
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2011, Economia, p. B6

Reis Velloso, que abre hoje a Sessão Especial do Fórum Nacional, diz que é preciso lançar a economia do conhecimento

Para João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento e presidente do Fórum Nacional, o Brasil deve abraçar uma nova "grande concepção" de desenvolvimento, baseada na economia do conhecimento. Velloso abre hoje a Sessão Especial do Fórum Nacional, a ser encerrada na sexta-feira, e vai abordar dez grandes oportunidades para o Brasil. Para ele, a grande crise internacional é uma chance de se lançar um novo modelo de desenvolvimento, e garantir crescimento sustentável bem acima da faixa de 3% a 4% na qual o País ameaça cair novamente. A seguir, a entrevista, na qual Velloso fala de algumas dessas oportunidades.

Quais foram as "grandes concepções" na história econômica brasileira, às quais o sr. se refere? Nós tivemos três grandes projetos no Brasil: as eras Vargas, Kubitschek e Geisel. Depois nós tivemos, do começo dos anos 80 até 2002, a geração de brasileiros que nunca viu o Brasil crescer em termos de renda per capita. Nesse período, o aumento da renda per capita foi de 0,4% ao ano.

Mas nos últimos anos o Brasil não voltou a crescer?

Sim, em seguida houve a redescoberta do crescimento, a era Lula, dois mandatos. O Brasil cresceu um pouco, chegou a alcançar 5%, mas depois dessa Grande Recessão internacional, de 2007 para cá, o Brasil ficou na defensiva. Hoje, qual é a perspectiva de crescimento? Algo como 3% a 4%.

O que fazer para sair dessa situação?

É o que chamo da quarta grande concepção. Um novo modelo de desenvolvimento para gerar gradualmente a era das grandes oportunidades. Nós temos as oportunidades, e no Fórum, amanhã (hoje), pretendo falar de dez delas. Mas falta a decisão de realmente promover essa mudança de modelo.

Que mudança é essa?

Há duas dimensões principais. A primeira é mais econômica, e significa levar o conhecimento sob todas as formas para todos os setores da economia, inclusive agribusiness e mineração. Não haverá mais setores "primários", já que todos passam a ter médio ou alto conteúdo de tecnologia.

E quanto à segunda dimensão?

Ela é mais social. Seria levar o conhecimento a todos os segmentos da sociedade, incluindo os de renda baixa, para evitar as exclusões, como a digital.

Como abordar a oportunidade do pré-sal?

A importância do pré-sal não é apenas a de permitir que o Brasil seja um grande produtor de petróleo e gás. Isso a Venezuela faz, e está pior do que há 30 anos. Temos de construir um grande complexo industrial e de serviços em torno do pré-sal. São os setores diretamente envolvidos com pesquisa e desenvolvimento. E há uma segunda onda, que é a dos fornecedores daqueles setores diretamente ligados à pesquisa e desenvolvimento. Me refiro a equipamentos -, até a indústria aeronáutica, porque vamos usar helicópteros -, à nanotecnologia, à robótica, por causa da grande profundidade. Há o enorme complexo de pesquisas que a Petrobrás já tem, que é o melhor do mundo.

Qual outra grande oportunidade o sr. destacaria?

A biotecnologia com base na biodiversidade. Nós temos a floresta amazônica, mas não sabemos o que fazer com ela. Todas as nossas tentativas resultaram em destruição da floresta sem que a região adquirisse densidade econômica. Então a oportunidade é dupla. Ter uma nova grande oportunidade para o desenvolvimento brasileiro, com biotecnologia à base da biodiversidade, e uma estratégia de desenvolvimento da Amazônia. Aqui estamos falando da venda de moléculas por empresas que lidam com a biotecnologia no setor farmacêutico, na agricultura, na pecuária. E podemos ampliar essa estratégia, já que também é muito grande a biodiversidade do cerrado, da caatinga e de todo o litoral brasileiro.

E o etanol?

É uma área que exige cuidado, porque temos de partir para novas tecnologias, uma segunda geração de biocombustíveis. Os Estados Unidos começaram erradamente querendo fazer etanol de milho, perderam o primeiro round, mas querem ganhar o segundo. Nós temos de avançar com o etanol de celulose, por exemplo, ou outros materiais. O Brasil é muito rico em todas as formas de materiais orgânicos. Não precisamos nos limitar ao etanol de cana se queremos manter a liderança.

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