Título: Alta de serviços contribui para disseminar inflação
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2011, Economia, p. B1

Em 12 meses até agosto, preços subiram 8,9%, enquanto IPCA teve aumento de 7,23% A difusão da inflação entre os vários setores da economia ocorre em boa medida pela facilidade de aumentar os preços dos serviços, apontam os economistas. Ganhos de renda e o baixo nível de desemprego, que neste ano deve fechar em 6%, a menor marca da série histórica iniciada em 2002, fortificaram a demanda nos últimos tempos. Isso abriu caminho para que os reajustes de preços dos serviços fossem aceitos pelos consumidores.

A prova desse movimento está estampada nos resultados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em 12 meses até agosto, os serviços subiram 8,9%, enquanto o IPCA teve alta de 7,23%, numa clara indicação de que a variação dos preços dos serviços se descolou da inflação.

Os preços das refeições fora de casa, por exemplo, subiram 12,08% nos últimos 12 meses, responderam por 0,53 ponto porcentual da inflação acumulada no período e encabeçaram o ranking dos itens que mais pressionaram a inflação.

Na vice-liderança desse ranking estão os gastos com empregados domésticos, que aumentaram 11,75% e pesaram 0,41 ponto porcentual no IPCA em 12 meses até agosto. Quase a metade (13) dos 28 itens que mais pesaram na inflação entre julho do ano passado e agosto deste ano é preço de serviço, revela a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Nunca os preços dos serviços estiveram tão pressionados como hoje", afirma o economista da LCA, Fábio Romão. A expectativa é que os preços dos serviços continuem sendo os vilões da inflação no ano que vem e pesem ainda mais no orçamento da classe média, que é a grande consumidora desses itens.

"O desempenho dos preços dos serviços incomoda", observa o economista. Ele pondera que em economias estabilizadas normalmente os preços dos serviços variam 1,5 ponto acima da inflação geral. Mas não é isso que se constata hoje.

Entre 2001 e 2009, por exemplo, os preços dos serviços subiram abaixo da inflação, lembra Romão. Nesse período, eles aumentaram 6,1% a cada ano e a média anual do IPCA foi de 6,7%.

Inversão. Em 2010, a tendência se inverteu. Para uma inflação de 5,9%, os serviços subiram 7,6% ou 1,7 ponto porcentual acima do IPCA. Neste ano, o diferencial será maior: o IPCA projetado pela consultoria é de 6,3% e os preços dos serviços devem fechar o ano em 8,8%, diferença de 2,5 pontos porcentuais.

"Dificilmente a variação dos preços dos serviços no ano que vem vai se aproximar do IPCA como um todo", prevê Romão. Ao contrário, a diferença entre os dois indicadores deverá ser ainda maior. Para um IPCA projetado em 5,1% no ano que vem, os preços dos serviços deverão aumentar 8,1%, uma diferença de 3 pontos porcentuais, na análise da LCA. Já a consultoria Tendências projeta para 2012 um diferencial de 2,5 pontos porcentuais entre a variação dos serviços (8,5%) e a inflação geral (6%).

Vários fatores devem sustentar a manutenção dos preços dos serviços em níveis elevados em 2012, diz Romão. Ganhos reais dos dissídios obtidos no segundo semestre deste ano são um forte combustível para a escalada de preços dos serviços. Mas o principal fator será o aumento do salário mínimo de 14% previsto para 2012. "Esse é um importante indexador", diz Romão.

Tatiana Pinheiro, economista do Santander, frisa que a grande resistência da inflação em 2012 está ligada aos preços dos serviços, que têm uma grande inércia e são influenciados pelos reajustes salariais. Ela observa que o afrouxamento da política monetária deve intensificar a inércia.