Título: Em 5 minutos, Dilma aceitou carta de demissão de Novais
Autor: Samarco, Christiane ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2011, Nacional, p. A4

Presidente avisou Temer ainda na terça-feira que PMDB deveria buscar substituto para ministro, que se disse "vítima de calúnias"

BRASÍLIA - Furiosa com a sucessão de denúncias envolvendo o ministro do Turismo, Pedro Novais, a presidente Dilma Rousseff conversou na quarta-feira, 14, à noite com ele por apenas cinco minutos, no Palácio do Planalto, quando recebeu sua carta de demissão. Apenas o vice-presidente Michel Temer presenciou o encontro, no qual Novais alegou ter sido "vítima de calúnias e difamações".

Na carta, porém, o ministro só agradeceu a confiança de Dilma. Ao contrário do ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi - que caiu no mês passado e saiu acusando um "importante político" por sua desgraça -, Novais apresentou um texto curto e formal. Não explicou as denúncias que pesam contra ele nem disse que iria se defender.

Dilma segurou Novais enquanto pôde, para não abrir nova crise de relacionamento com o PMDB, mas avisou Temer, ainda na terça-feira, que o partido precisava encontrar rapidamente outro nome para o Turismo. "A situação é insustentável", afirmou. Ela também conversou na quarta, por telefone, com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Na avaliação da presidente, Novais já deveria ter pedido para sair há muito tempo. A queda do terceiro ministro filiado ao PMDB - e quinto do governo Dilma - provocou uma queda de braço entre as várias alas do partido, de olho na vaga. Padrinho político de Novais, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), passou o dia tentando emplacar o deputado Marcelo Castro (PI). Dilma vetou o nome, alvo de investigações no Tribunal de Contas, na Polícia Federal e no Ministério Público.

A presidente avisou o PMDB que o indicado deveria ter "ficha limpa" e nenhuma denúncia nas costas. Dilma também ignorou os movimentos de Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos e de Geddel Vieira Lima, vice-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF) para Pessoa Jurídica. O primeiro gostaria de trocar de cargo e o segundo, de retornar à Esplanada. Geddel foi ministro da Integração no governo Lula, mas Dilma não pretende chamá-lo para a equipe. Hoje, ele é desafeto do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).

Missão. Antes de Temer chegar a Brasília, vindo de São Paulo - onde estava internado por intoxicação alimentar -, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, recebeu a tarefa de adiantar as negociações para a troca de Novais. Coube ao líder do PMDB a missão de avisar o afilhado que era preciso pedir demissão. Por ordem de Dilma, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, já havia cobrado publicamente explicações de Novais.

Diante do impasse no PMDB para a escolha do novo titular do Turismo, o governo avisou Alves que, se não houvesse acordo, o indicado seria o senador Eduardo Braga (AM). Era tudo o que a bancada da Câmara não queria.

Enquanto Alves convencia Novais a sair, o presidente interino do PMDB, Valdir Raupp (RO), conversava com Dilma. Raupp foi ao Palácio do Planalto para ciceronear o governador de Rondônia, Confúcio Moura.

À saída do encontro, ele não deixou dúvida de que Novais já estava rifado pelo partido. Disse que o uso de dinheiro público para pagamento de despesas pessoais era "indefensável". Reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostrou na quarta-feira que o então ministro usava um servidor remunerado pela Câmara como motorista particular de sua mulher, Maria Helena de Melo.

Novais também havia pago salários de uma governanta de sua casa com dinheiro público, por sete anos, quando era deputado. O que mais irritou Dilma foi o fato de Novais continuar cometendo irregularidades quando já estava no ministério.

No mês passado, o Turismo foi alvo de operação da Polícia Federal, que investigou desvios de recursos na pasta e prendeu 36 pessoas, entre elas o secretário executivo Frederico Costa. Em dezembro, antes da posse de Dilma, o Estado revelou que Novais havia pago despesas de motel com verba da Câmara.

"Ninguém pode dizer que a imagem do PMDB está comprometida por causa de uma pessoa. Problemas assim acontecem no Japão, na Inglaterra, em qualquer lugar", amenizou Raupp.

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