Título: PIB do BC emite sinais de desaceleração
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2011, Economia, p. B7

Crescimento foi de apenas 0,01% no bimestre junho-julho, na comparação com o período abril-maio; anualizada, taxa aponta crescimento de só 2%

A economia brasileira ficou estagnada, com crescimento de apenas 0,01% no bimestre junho-julho na comparação com o período abril-maio, informou ontem o Banco Central, ao divulgar o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br). Projetada para o período de um ano, a taxa bimestral aponta para um crescimento de apenas 2%. Especificamente no mês de julho, dado anunciado ontem, o IBC apontou crescimento de 0,46%, compensando em parte o índice negativo do mês anterior.

O dado foi recebido pelo Banco Central como um reforço de sua tese que a economia brasileira está em desaceleração. Essa foi a principal justificativa para o polêmico corte da taxa de juros, de 12,5% para 12% no fim de agosto. Esse processo de esfriamento econômico, na visão da autoridade monetária, corre o risco de ser intensificado com a piora no cenário internacional. Por isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou que havia espaço para reduzir os juros sem correr o risco de aumentar pressões inflacionárias.

No entanto, o número ainda não foi suficiente para convencer parte dos economistas. Eles reconhecem que, apesar da alta no mês, é possível observar alguma acomodação da atividade no médio prazo. Mesmo assim, prevalece o entendimento de que ainda é cedo para dizer se a decisão foi acertada.

"Há uma piada entre economistas de que os números, quando torturados, dizem qualquer coisa", brinca um economista de uma instituição financeira no Rio de Janeiro. Ele ressalta que os dados confirmam a previsão de que a economia já passa por um processo de desaceleração.

Em São Paulo, a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, reforça a leitura da desaceleração e prevê que a economia deverá ter números ainda mais modestos em agosto.

O primeiro IBC-Br divulgado após a redução da taxa Selic não surpreendeu o mercado financeiro. Para o mercado, o índice que tenta antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) mostra que a retração registrada em junho - a primeira desde dezembro de 2008 - havia sido um ponto fora da curva e a economia segue em expansão. O ritmo, porém, dá alguns sinais de acomodação.

Essa desaceleração é vista especialmente na comparação trimestral, base usada para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). Nos três meses terminados em julho, a economia cresceu 0,43% ante igual período até abril. A taxa é quase a metade do crescimento da economia do segundo trimestre, quando atingiu 0,8%. / COLABORARAM RICARDO LEOPOLDO E LU AIKO OTTA

Ritmo

A LCA Consultores acredita que a economia do terceiro trimestre pode ter crescimento zero ou, no máximo, algo próximo de 0,2%. O desempenho da indústria puxaria o índice para baixo.