Título: Turismo da crise busca pechinchas na Europa
Autor: Gerbelli, Luiz Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2011, Economia, p. B13

Com menos turistas europeus, hotéis e serviços da Grécia, Itália, Espanha e Portugal cortam preços e atraem mais brasileiros

Uma greve geral parou o centro de Atenas, na Grécia, em 11 de maio. Eram os trabalhadores protestando contra o programa de austeridade fiscal exigido pelos organismos internacionais para conceder uma ajuda financeira ao país. No meio daquele caos, a brasileira Maria Célia Antunes Jardim desembarcava na cidade. Estava lá para comemorar o aniversário de 25 anos de casamento. "Chegamos, e o metrô estava parado. Andamos de táxi no primeiro dia para chegar até o hotel."

Os conflitos na Europa são apenas uma parte da crise financeira que assusta boa parte dos países do continente, em especial Grécia, Itália, Espanha e Portugal. As finanças dos países estão abaladas, o desemprego é alto e as consequências estão presentes até no turismo. Sem uma forte demanda europeia, os preços dos hotéis e dos serviços estão mais baixos. Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), alguns destinos europeus estão 15% mais baratos este ano do que em 2010. Além da crise, há uma redução adicional nos preços para os brasileiros, por conta do fortalecimento do real frente ao euro.

Exceto pelo primeiro dia, nos outros 17 dias em que permaneceu na Grécia, Maria Célia teve uma rotina tradicional de turista. Deixando toda aquela confusão de lado, o seu sonho era conhecer tudo aquilo que envolve a história mitológica grega. "Não houve nenhum outro incidente. E os preços estavam bem honestos", afirma.

Cada vez mais brasileiros estão embarcando para a Europa em busca de boas oportunidades. São vários fatores que puxam a alta dessa demanda. Entre os principais, estão o aumento da renda dos brasileiros e a queda no preço das passagens aéreas. "O brasileiro teve aumento de renda e a passagem de avião caiu muito pela concorrência, principalmente pela internet", analisa Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas.

Os institutos dos países europeus em crise apontam o avanço da presença brasileira na Europa. Pelos dados do Instituto Nacional de Estatísticas da Espanha (INE), 241 mil brasileiros visitaram o país no ano passado. Uma alta de 6% ante 2009. Os brasileiros também estão gastando mais. Segundo o Ministério da Economia de Portugal, os brasileiros gastaram no ano passado 12,3 milhões ante 7,8 milhões em 2009, uma variação positiva de 58%.

A queda de preço no turismo europeu é uma novidade, segundo o presidente da Braztoa, Marco Ferraz. "É um fenômeno mais recente. Não observamos isso durante a crise de 2008. Naquela época, o Brasil também foi afetado. Houve uma diminuição no fluxo de visitantes." Em Portugal, por exemplo, o preço da diária média no segundo trimestre deste ano foi de 127,64, uma queda de 0,9% em relação ao mesmo período do ano passado.

Na Itália, a presença de brasileiros também cresce. Segundo dados do Ministério do Turismo, no ano passado, quase 275 mil brasileiros embarcaram para a Itália ante 262 mil em 2009.

Desde maio em Florença, a relações públicas Flávia Médici ressalta o baixo custo dos serviços no país. Uma pizza inteira, por exemplo, 5. "Também é possível achar restaurantes que trabalham com menu do dia, com primeiro e segundo pratos e uma bebida, por 14", afirma.

Na avaliação de Flávia, os setores ligados ao turismo têm atraído os jovens que estão desempregados. "Os italianos estão sentindo a crise principalmente pelo desemprego entre os jovens. Muitos deles terminam a faculdade e não encontram trabalho nas suas áreas de formação, e acabam trabalhando em restaurantes, hotéis e bares."

Interior. Para o sócio-diretor da Central do Intercâmbio, Victor Hugo Baseggio, os melhores preços são mais frequentes em cidades do interior. "Em cidades de grande atratividade, como Barcelona, Madri ou Paris, por exemplo, é difícil ocorrer uma queda nos preços", afirma ele. "Eu diria de imediato que os preços não baixaram em grande centros, mas, se você for para outros cidades mais distantes, aí a situação é crítica", diz Baseggio. Ele ressalta que os preços dos serviços foram afetados em todas as regiões."Por exemplo, o brasileiro tem ido mais para Andaluzia, na Espanha, porque descobriu que é mais barato", afirmou.

Segundo Baseggio as regiões dos países europeus mais afetados são aquelas que dependem mais turismo doméstico, como o sul da Espanha. "A cidades com grandes fluxos internacionais conseguem compensar a perda de turistas de outras formas", diz ele, que ressalta que, em média, 70% das viagens realizadas no mundo ocorrem num raio de até 450 quilômetros.

A Espanha tem enfrentando esse fenômeno de interior versus capital. Em cidades como Madri ou Barcelona algumas redes de hotéis oferecem uma diária com um preço até 384% maior do que cobraria em cidades interioranas.

Em queda

MARCO FERRAZ PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRAS DAS OPERADORAS DE TURISMO

"A queda do preço no turismo europeu é um fenômeno mais recente. Não observamos isso durante a crise de 2008. Naquela época, o Brasil também foi afetado. Houve uma diminuição no fluxo de visitantes."

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 04/09/2011 01:10