Título: Papa inicia hoje viagem pela Alemanha
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2011, Vida, p. A27

Bento XVI inicia hoje visita, pela primeira vez como papa, a duas regiões tradicionalmente protestantes na Alemanha: Berlim e Erfung. Nas viagens anteriores, em 2005 e 2006, ele visitou regiões de maioria católica. Em Berlim, há apenas 9,34% de católicos. Os evangélicos também não chegam a 20%. Depois de quatro décadas de comunismo, cerca de 63% das pessoas na capital declaram-se "sem religião".

Um discurso no Parlamento, em Berlim, e um encontro com o Conselho da Igreja Luterana no antigo mosteiro de Erfurt - onde Martinho Lutero (1483-1546), precursor da reforma protestante, morou cinco anos - são os destaques da sua agenda na visita que começa hoje e vai até domingo.

O papa irá também a Friburgo e Etzelsbach, um enclave católico no leste protestante. Além dos luteranos, vai se reunir com judeus e muçulmanos.

Grupos de gays e lésbicas já realizaram protestos contra a visita do papa. A casa onde Bento XVI ficará hospedado sofreu ataques de tinta na fachada. Alguns parlamentares de esquerda disseram que pretendem boicotar o discurso papal no Parlamento.

Ecumenismo. O encontro com membros do Conselho da Igreja Evangélica Alemã, seguido de celebração paralitúrgica, criou expectativa nos meios católicos e luteranos pelo fato de o papa Bento XVI visitar a casa em que Lutero foi ordenado padre.

O presidente da Igreja Evangélica da Renânia, Nikolaus Schneider, e o papa Bento XVI darão a bênção final no encerramento da celebração, na realidade duas cerimônias separadas, de acordo com o rito luterano e o católico. Os participantes recitarão um salmo em tradução alemã da Bíblia feita por Lutero.

"Bento XVI pode ser extremamente católico, mas também é muito alemão e sente afeto pelo teólogo alemão mais famoso que já existiu", afirma o vaticanista John Allen Jr., sobre a opinião do papa a respeito de Lutero. Ele acredita que o pontífice tentará recalibrar relações com protestantes, rumo ao 500.º aniversário da Reforma, em 2017. / JOSÉ MARIA MAYRINK COM REUTERS