Título: Dólar tem maior alta diária desde 2008, vai a R$ 1,84 e preocupa governo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2011, Economia, p. B1-3

Dólar o dólar teve ontem a maior alta diária desde o auge da crise global, em outubro de 2008. A moeda subiu 2,84%, para R$ 1,845. No mês, acumula valorização de quase 16%. Por causa dessa estocada, o Banco Central (BC) decidiu não renovar um tipo de contrato de câmbio futuro. Na prática, equivale a vender dólar. É a primeira vez que isso ocorre desde o inÍcio de 2009. No mercado à vista, porém, o BC ainda não vendeu moeda americana. "

Em Nova York, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou a adoção de medidas para segurar o dólar. Mas o Estado apurou que os ganhos da moeda americana já incomodam o governo, por causa, principalmente, do efeito na inflação. Os cálculos variam conforme o analista, mas o fato é que, se o dólar se mantiver nesse nível ou subir mais, a meta de inflação estará ameaçada em 2011 e 2012. Ou seja,? IPCA superará 6,5% no ano.

A decisão do BC de não renovar o equivalente a US$ 2 bilhões dos chamados contratos de swap cambial reverso seria uma sinalização de que a tolerância à alta da moeda americana teria chegado ao fim. Há no mercado quem diga que o governo teria uma meta informal para o dólar, entre R$ 1,65 e R$ 1,85.

Fed e Grécia. A quarta-feira marcou mais um dia de pessimismo no mercado global, por causa das dúvidas sobre a ajuda financeira à Grécia e da reunião do Federal, Réseryé (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

A autoridade monetária americana manteve o juro básico inalterado entre zero e 0,5% ao ano, mas anunciou novo programa de recompra de títulos de longo prazo de US$ 400 bilhões. O objetivo é estimular a economia.

Apesar das más notícias, especialistas não viram razão aparente que justifIcasse uma alta tão expressiva da moeda americana. O Índice Bovespa, por exemplo, perdeu "apenas" 0,70%.

"São fatores técnicos que explicam essa virada no dólar", afirmou o diretor de operações da Levycam Corretora de Câmbio, J ohnny Kneese. O diretor executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, concorda. Segundo ele, as medidas do governo para conter a alta do real tiraram a liquidez do mercado futuro de câmbio. "Qualquer operação mais vultosa tem sido suficiente para mexer muito com as cotações."

A maior parte do mercado, como Kneese e a Tendências Consultaria, defende que o BC aja para segurar a moeda americana com vendas nos mercados à vista e futuro. Nehme faz contraponto. "Os especuladores que se meteram nessa agora querem socializar as perdas", disse. Ele reconhece, no entanto, que há um limite para o governo não agir: o efeito do câmbio na inflação.