Título: Contas externas sensíveis à nova taxa cambial
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2011, Economia, p. B2

O déficit das transações correntes do balanço de pagamentos atingiu, em agosto, US$ 4,852 bilhões, um recorde que, aliado à conjuntura internacional, levou o Banco Central (BC) a rever suas previsões para este ano, de US$ 60 bilhões para US$ 54 bilhões. Mas o mais discutível foi a previsão de que as operações da conta capital e financeira irão dos US$ 88,2 bilhões inicialmente estimados para US$ 111,4 bilhões.

A mudança que se registra na taxa cambial certamente produzirá profundas modificações nas contas externas. Admitindo-se uma taxa de R$ 1,90 por dólar, pode-se prever uma elevação das exportações e um recuo das importações, com melhoria do resultado da balança comercial, que levou o BC a rever a estimativa de superávit de US$ 20 bilhões para US$ 29 bilhões.

Mas alguns fatores podem frustrar essas expectativas. As exportações, de modo geral, representam decisões tomadas com pelo menos três meses de antecedência, e a desvalorização permite uma melhoria imediata em termos de reais, e não em moeda estrangeira. Para as commodities, os contratos estão prevendo a possibilidade de uma redução em dólares, se houver desvalorização da moeda do país fornecedor - o que já se verifica com o minério de ferro. Deve-se, ainda, levar em conta as dificuldades ocasionadas pela queda, já sensível, do financiamento das exportações.

É possível que haja uma redução das importações, em razão da taxa cambial e das dificuldades de financiamento. Mas, sendo grande a participação de componentes importados nos produtos acabados, não se pode esperar forte e rápida queda das importações. Não é o caso das viagens internacionais, cuja conta mostra sensível redução do déficit já em setembro.

É do lado das operações financeiras que deve haver as mudanças mais importantes. Nos oito primeiros meses do ano, elas foram responsáveis por mais de 200% do déficit em conta corrente. Mas poderão se reduzir nos últimos meses do ano.

No quadro atual da economia mundial, é provável que se registre um recuo dos investimentos estrangeiros diretos, embora os investidores recebam mais reais com a desvalorização. Já se nota um ligeiro recuo dos financiamentos, que deve se acentuar. Em setembro já houve também queda dos investimentos em renda fixa.

Com as reservas de que dispõe, o Brasil não enfrentará dificuldades a médio prazo, embora o País dependa muito do exterior.