Título: G-7 adota estratégia do cada um por si
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2011, Economia, p. B10

Encontro de ministros fracassa ao buscar acordo nas políticas para retomar crescimento

Pouco se esperava da reunião de ministros da Economia e de presidentes de bancos centrais do G-7 que terminou ontem, em Marselha, no sul da França. E o resultado foi à altura das expectativas. Em um comunicado final cheio de palavras fortes, mas vazio em medidas práticas, os ministros decidiram adotar a estratégia do "cada um por si" ante os temores de recessão em duplo mergulho, de reestruturação das dívidas soberanas na Europa e de recapitalização do sistema financeiro do bloco.

A reunião tinha por objetivo inicial harmonizar, na medida do possível, as políticas macroeconômicas nos sete países-membros do grupo - Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Essa perspectiva, entretanto, já vinha sendo esvaziada por vários dos executivos presentes ao evento, inclusive pelo anfitrião, o ministro da Economia da França, François Baroin. O receio dos líderes políticos era de que a falta de medidas concretas ao término do G-7 pudesse ser compreendida pelos mercados financeiros como um fracasso.

Para tentar acalmar os investidores, o comunicado usa frases de efeito. "As inquietudes em torno do ritmo e do futuro da retomada acentuam a necessidade de um esforço conjunto em nível internacional para apoiar o crescimento econômico forte, sustentável e equilibrado", diz o comunicado, que defende: "Devemos todos adotar e implantar planos de consolidação fiscal ambiciosos e favoráveis ao crescimento, baseados em conjunturas fiscais credíveis".

Entre os exemplos de políticas a serem seguidas está o polêmico plano anunciado nesta semana pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que deslocou US$ 447 bilhões para um programa de combate ao desemprego. Nenhuma medida nesse sentido, porém, foi anunciada por europeus, canadenses ou japoneses.

Nem diante da preocupação crescente com a saúde do sistema financeiro, afetado pela crise das dívidas soberanas de países como Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália, houve medidas práticas. Na sexta-feira, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, afirmou em Londres que os bancos da Europa podem precisar de recapitalização. Na quinta, o economista-chefe da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Pier Carlo Padoan, havia feito o mesmo diagnóstico. No fim do pregão de sexta-feira, a questão ajudou a derrubar as bolsas de valores em todo o mundo.

Em resposta ao tema, o G-7 foi evasivo. Segundo Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), não há risco de liquidez no sistema financeiro da zona do euro porque o total de ativos dos bancos depositados na autoridade monetária e prontos para serem usados chega a ? 4,5 bilhões.

Já as garantias que teriam de ser cobertas em caso de reestruturação de dívidas seria de ? 1,7 bilhão, pelos dados do Instituto Europeu de Emissões. O mercado, porém, tem avaliações dezenas de vezes maior. Além disso, Trichet lembrou que os testes de estresse no início do ano já apontaram a necessidade de recapitalização - dado também questionado pelos mercados.

Sobre a resolução das crises, o comunicado do G-7 traz uma curiosidade. Em seu último parágrafo, o grupo - que um dia reuniu as sete nações mais ricas do mundo - mostra sua impotência e apela aos países emergentes para enfrentar a turbulência. "Nós vamos trabalhar com os colegas do G-20 e do FMI no reequilíbrio da demanda e no reforço do crescimento mundial", diz o texto. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Sem comentários

A demissão do economista-chefe do BCE, Jürgen Stark, por divergências com a instituição, passou em branco no G-7. Nenhuma autoridade monetária quis comentar o racha interno.