Título: Radicais judeus incendeiam mesquita e governo de Israel condena ataque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2011, Internacional, p. A12

Extremismo. Netanyahu apressa-se em expressar repúdio à ação de grupos da ultradireita, que atacaram outros dois templos muçulmanos nas últimas semanas em retaliação a ataques de palestinos contra moradores de assentamentos na Cisjordânia

Uma mesquita frequentada por árabes-israelenses foi incendiada e invadida na madrugada de ontem no vilarejo de Tuba-Zangariya, na Galileia, norte de Israel. A polícia acusou extremistas judaicos pelo ataque, condenado pelas principais autoridades do país. A ação, terceira do tipo em um mês, provocou protesto de moradores locais, que entraram em confronto com forças de segurança.

O fogo consumiu a biblioteca e o carpete da mesquita. Cópias do Alcorão, o livro sagrado do Islã, foram destruídas. As paredes do templo foram pichadas com palavras de ordem e o sobrenome de uma família morta em Hebron na semana passada, em um acidente de carro provocado por um palestino que atirou pedras contra o veículo.

Segundo moradores do vilarejo, o incêndio começou por volta das 2 horas (horário local). A polícia foi chamada, mas quando os agentes chegaram ao local o fogo já tinha destruído boa parte do templo. "Nosso vilarejo é tranquilo e sempre tivemos boas relações com moradores judeus", disse Ali Zangria, que trabalha na mesquita.

O premiê Binyamin Bibi Netanyahu, o presidente Shimon Peres, ministros e autoridades religiosas condenaram prontamente o ataque. "As imagens são chocantes e indignas do Estado de Israel", declarou o primeiro-ministro em comunicado. "É uma atitude contrária aos valores do país, que dá extrema importância à liberdade de culto."

Para Peres, que visitou a mesquita, é impensável que judeus possam atacar algo sagrado para outra religião. "Esse ato não é judaico. É ilegal e imoral. Envergonha-nos profundamente", afirmou.

'O preço'. De acordo com a imprensa israelense, as palavras "vingança" e "o preço", marcadas nas paredes do prédio durante o ataque, são referência à política de colonos radicais para revidar ataques dos palestinos e sua expulsão de áreas proibidas pelo Exército israelense. Esses atentados, para os radicais judaicos, seriam o custo da limitação da política de assentamentos e dos protestos palestinos.

"Isso é terrorismo. Não podemos permitir o uso desse termo", disse o ministro de Segurança Interna Yitzhak Aharonovitch. "No final, encontraremos os responsáveis."

Foi a terceira mesquita queimada em Israel e nos territórios palestinos desde que o Exército israelense destruiu assentamentos ilegais na Cisjordânia no mês passado. Uma base militar israelense também foi alvo de vandalismo. Após os dois outros ataques, alguns suspeitos foram impedidos de entrar no território palestino, mas ninguém foi preso nem indiciado.

Um dia antes do atentado, o jornal Haaretz publicou uma reportagem sobre a crescente preocupação no Shin Bet - o serviço secreto interno - com o aumento na atividade de extremistas judaicos. Segundo o diário, esses radicais já não estariam mais esperando um episódio específico para lançar ataques contra alvos palestinos.

Para o Shin Bet, ainda conforme o Haaretz, os principais responsáveis por incitar esses ataques seriam radicais como o rabino Yitzhak Shapira, que atua perto de Nablus, na Cisjordânia. Ele foi detido em janeiro de 2010 pela suspeita de envolvimento no incêndio de uma mesquita em Yasuf (mais informações nesta página).

Após o ataque de ontem, cerca de 200 moradores árabes do vilarejo marcharam rumo a uma estrada próxima, com a intenção de bloqueá-la.

Pneus foram incendiados e alguns dos manifestantes jogaram pedras contra a polícia, que os dispersou com bombas de gás lacrimogêneo. Não houve feridos e ninguém foi preso.

Os árabes-israelenses, a maioria formada por muçulmanos, compõem cerca de 20% da população do país. Muitos deles vivem na região onde a mesquita foi atacada e reclamam de discriminação.

Assentamentos. A política de assentamentos em territórios palestinos é um dos principais pontos que travam a retomada de negociações de paz, patrocinadas pelos Estados Unidos. A Autoridade Palestina (AP) exige que Israel pare de construir nas áreas onde pretende erguer seu futuro Estado: Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

O Quarteto para o Oriente Médio (EUA, UE, ONU e Rússia), vem tentando trazer os dois lados de volta às negociações. No domingo, Netanyahu evitou aderir totalmente ao plano, que prevê um cronograma de um ano para criação do Estado palestino. / REUTERS, AP e AFP