Título: A ordem do governo brasileiro é ficar calado
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2011, Internacional, p. A14

Apesar de ser o financiador da estrada, o governo brasileiro quer distância do problema causado pela obra e pelas manifestações dos indígenas. Governo e oposição bolivianos tentam envolver o País na discussão, mas o governo da presidente Dilma Rousseff quer se manter calado, falando o estritamente protocolar, enquanto espera que a Bolívia decida o que quer com a rodovia.

Enquanto a oposição boliviana quer que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) seja duro na cobrança de liberação dos recursos, o governo de Evo apresenta o fato de o banco ter aceitado financiar a estrada como uma garantia de que estaria fazendo tudo corretamente. Nenhum dos lados, no entanto, vai ouvir declarações de representantes do governo brasileiro. Ao contrário de anos anteriores, em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a apoiar governos amigos contra as oposições locais, desta vez a ordem é manter discrição total.

Em conversas com o Estado, diplomatas explicam que o Brasil não tem razão nenhuma para se envolver em assuntos internos na Bolívia. O financiamento pelo BNDES atende, na verdade, a um pedido do presidente boliviano, Evo Morales, a Lula.

A disputa pela construção ou não da estrada teria por trás, de acordo com as fontes, uma questão eleitoral. Em especial uma demonstração de força nas eleições para os tribunais superiores bolivianos, marcadas para outubro. A votação, que escolhe os presidentes dos tribunais regionais da Bolívia, é a última antes das eleições majoritárias de 2014.

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