Título: Dilma alerta UE sobre medidas fiscais
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2011, Economia, p. B1

Presidente afirma que ajustes ficais recessivos não são solução para a crise dos países europeus; conselho foi dado ao premiê da Bélgica

A presidente Dilma Rousseff usou como exemplo duas décadas de estagnação ou crescimento lento no Brasil, entre 1980 e 1990, para sugerir à Europa que rompa com o ciclo de "ajustes fiscais extremamente recessivos" para combater a crise. O conselho foi dado ao primeiro-ministro demissionário da Bélgica, Yves Leterme, ontem, no primeiro dia de sua visita a Bruxelas. Em resposta, o premiê belga afirmou que ajuste no bloco europeu é "equilibrado".

O encontro entre Dilma e Leterme serviu como prévia para a reunião de cúpula União Europeia-Brasil, que ocorre hoje. Mostrando-se preocupada com a possibilidade de contágio pela crise econômica enfrentada pelos 17 países da zona do euro, a presidente afirmou que o país está tomando "todas as medidas para reduzir o eventual impacto desta crise". Ela também elogiou a Bélgica por manter um nível de crescimento "satisfatório" em meio à turbulência, mas advertiu a Europa que a austeridade fiscal pode fazer o continente mergulhar na estagnação.

"Os países desenvolvidos devem agir no interesse de seus povos para de fato garantir que eles não sofram as consequências do desemprego e da redução de suas garantias sociais", defendeu. Dilma lembrou que a América Latina passou nos anos 1980 e 1990 por uma crise de dívidas, que causou "perdas bastante significativas".

"A nossa experiência demonstra que, no nosso caso, ajustes fiscais extremamente recessivos só aprofundaram o processo de recessão, de perda de oportunidades e de desemprego", advertiu, repetindo o pedido para que a Europa "leve a população em conta" durante a crise, "para que ela sofra o mínimo possível, sobretudo no que se refere ao desemprego". "Dificilmente se sai da crise sem aumentar o consumo, o investimento e o nível de crescimento."

Instantes depois, Leterme - que deixará o cargo para assumir funções na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) - concordou que as políticas macroeconômicas devem encontrar um ponto de equilíbrio entre o rigor e o incentivo ao crescimento.

"É preciso um bom equilíbrio entre um saneamento sustentável das finanças públicas, e de outra parte preservar uma capacidade de crescimento da economia", afirmou.

Leterme, porém, demonstrou ter divergências em relação à análise de Dilma. Segundo ele, desde a última reunião de cúpula do Conselho Europeu o bloco está empenhado em equilibrar as políticas de rigor com investimentos que garantam o crescimento.

Jantar. À noite, Dilma participou de um jantar solene. Em sua mesa, estavam o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e o da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. Eles voltam a se reunir hoje, quando ocorre a Cúpula União Europeia-Brasil.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 04/10/2011 05:51