Título: Filial da Al-Qaeda lança ataque com caminhão-bomba e mata 70 na Somália
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2011, Internacional, p. A12

Terror em Mogadíscio. Grupo Al-Shabab reivindica autoria do mais sangrento atentado no país desde o início da insurgência; maior parte das vítimas é de estudantes e pais que aguardavam resultado de programas de bolsas oferecidos por Turquia e Sudão

Imersa há 20 anos em uma guerra civil, a Somália sofreu ontem o ataque terrorista mais sangrento desde o início da insurgência islâmica no país, em 2007. Ao menos 70 pessoas morreram e 42 ficaram feridas na explosão de um caminhão-bomba em Mogadíscio, segundo fontes médicas. Expulsa da capital em agosto, a milícia Al-Shabab, ligada à Al-Qaeda, reivindicou a autoria do atentado e ameaçou espalhar mais violência.

O veículo carregado de combustível explodiu na frente do Ministério da Educação, onde estudantes acompanhados por seus pais esperavam o resultado de programas de bolsa de estudos oferecido pelos governos da Turquia e do Sudão. A explosão criou uma nuvem de cinzas por um raio de 800 metros no centro da capital somali. Pedaços de corpos e destroços do prédio espalharam-se pelas ruas próximas. Pedestres e carros que passavam pelo local foram atingidos pela explosão.

"A maior parte das vítimas é de estudantes e seus parentes", disse o Ministério da Educação da Somália em nota. "Esse ataque mostra que o perigo do terrorismo não acabou."

As ambulâncias da precária estrutura de saúde pública do país correram para o local do atentado. Civis tentavam remover os corpos com tapetes e lençóis. A violência do ataque chocou as equipes de resgate, acostumadas ao caos diário somali.

O enfermeiro Ali Abdullahi, que recebeu parte dos feridos no Hospital Medina, disse ter testemunhado a pior tragédia de sua vida. De acordo com ele, dezenas de feridos chegavam a cada momento no hospital, inconscientes e com partes do corpo queimadas ou amputadas.

Familiares das vítimas estavam inconformados. "Mataram-no antes de ele começar a universidade? Por quê? Maldita seja a Al-Shabab", disse Duniya Salad, irmã de um dos mortos. Para Anisa Abdulleh, que escapou do ataque, a milícia tinha os estudantes como alvos. "Odeio a Al-Shabab porque ela nos vê como inimigos", afirmou.

Em comunicado publicado na internet, o grupo assumiu a autoria do ataque. "Nossos combatentes islâmicos invadiram o local onde ministros e as tropas da Amisom estão", escreveu a Al-Shabab, em referência as tropas de paz da União Africana na Somália. "Mais explosões virão."

Fome. O atentado ocorre em meio à pior onda de fome no país em 60 anos. A Al-Shabab, que controla o centro e o sul da Somália, impede a chegada da ajuda humanitária às vítimas. Segundo a ONU, 29 mil crianças já morreram de inanição e 750 mil pessoas devem ser afetadas nos próximos meses. Segundo testemunhas, o grupo executa quem tenta fugir da fome rumo ao Quênia, dizendo que é melhor morrer a aceitar ajuda do Ocidente.

Em agosto, o grupo foi expulso de Mogadíscio. "Mesmo com eles fora da capital, é muito difícil impedir esse tipo de atentado", admitiu o representante especial das Nações Unidas para a Somália, Augustine Mahiga.

Os EUA e a ONU criticaram a violência . "É evidente que os terroristas não têm nenhum interesse pelo povo", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou o atentado "repugnante". / AP, REUTERS, AFP e NYT