Título: Implosão do Dexia acelera pacote de ajuda a bancos
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2011, Economia, p. B3

Instituição franco-belga é primeira vítima do contágio da crise da dívida no sistema financeiro

A implosão do banco Dexia, uma das mais tradicionais instituições financeiras da Bélgica, deve acelerar nas próximas semanas a criação de um programa de recapitalização do sistema financeiro da Europa. A decisão foi encaminhada ontem pelo fórum de ministros de Economia e Finanças da zona do euro (Ecofin), e reflete a preocupação generalizada em Bruxelas sobre a saúde dos bancos do bloco, cada vez mais contaminados pela crise das dívidas soberanas. As condições do programa foram discutidas ontem, na reunião dos ministros realizada em Luxemburgo, mas ainda estão em fase de elaboração. Segundo o comissário de Relações Econômicas da União Europeia, Olli Rehn, "há um senso de urgência entre os ministros de que devemos avançar". "As posições de capital dos bancos europeus devem ser reforçadas para prover margens mais seguras e reduzir a incerteza", explicou o executivo. "Esse tema deve ser observado pela União Europeia em uma estratégia ampla para restaurar a confiança e superar a crise." Aos pedaços. A preocupação coma situação dos bancos europeus aumentou na segunda-feira, quando a direção do Dexia anunciou a decisão de desmantelar a instituição, assolada pelas dívidas. Na prática, o banco ¿ de origem belga, mas com parte do capital francês ¿ vai organizar a própria extinção.Atarefa foi delegada pelo Conselho de Administração a Pierre Mariani, espécie de interventor nomeado para salvar a instituição em 2008. A empresa havia sobrevivido graças à injeção de ¿ 6,4 bilhões em dinheiro público quando da falência do Lehman Brothers e do contágio pelos créditos imobiliários de alto risco dos Estados Unidos ¿ os subprimes. O banco convive com ¿ 100 bilhões em obrigações soberanas, dos quais ¿ 21 bilhões foram emitidas por países ameaçados de insolvência, casos da Grécia, de Portugal, da Itália e da Espanha. A instituição se tornou, na prática, a primeira vítima do contágio da crise das dívidas no sistema financeiro. Na Bélgica, a situação é tão delicada que mobilizava as autoridades belgas ontem, em Bruxelas. No final da tarde, o ministro das Finanças, Didier Reynders, passou apressado pela reportagem do Estado e, de forma gentil, mas definitiva, respondeu quando questionado se dispunha de um instante para falar. "Desculpe, mas o dia é difícil e não tenho tempo de maneira alguma." O ministro trata ¿ ao lado do ministro da Economia da França, François Baroin ¿ de minimizar o impacto da virtual falência sobre o sistema financeiro do país e do esqueleto de ¿ 120 bilhões do "bad bank" criado pelo Dexia para retirar de seu balanço as dívidas podres. A Dexia Crediop e a Dexia Sabadell, unidades de empréstimos municipais do banco na Itália e na Espanha, respectivamente, também seriam incluídas no banco ruim. A crise da dívida soberana na Europa tem prejudicado a maioria dos ativos financeiros de países do sul do continente, o que praticamente inviabiliza uma busca do Dexia por interessados em comprar as duas unidades. Garantias. No final da tarde, em nota oficial, os governos da Bélgica e da França informaram os clientes e os credores da instituição que suas dívidas serão honradas. "Os Estados belga e francês, em ligação direta com os bancos centrais, assumirão as medidas necessárias para assegurar a segurança dos clientes e dos credores", afirmaram os ministros Reynders e Baroin. O anúncio da "reestruturação" do Dexia, com a venda de subsidiárias e a extinção de empresas do grupo, derrubou as ações da companhia. Às 9h22 min, logo após a abertura dos pregões europeus, as ações da instituição despencaram 37,68%, no valor mais baixo desde de sua abertura de capital. No encerramento das atividades, a perda foi de 22,46%. Apesar do desmantelamento organizado do banco e das suspeitas crescentes de contágio no sistema financeiro, as bolsas da Europa não reagiram em desespero. Todas as praças fecharam em baixa, mas limitada. Em Londres, a queda do FTSE 100 foi de 2,58%, semelhante às perdas do CAC 40, em Paris, e do DAX, em Frankfurt, que recuaram 2,61% e 2,98%, respectivamente. Já o índice do sistema financeiro, o Stoxx Europe 600 Banks, caiu 4,01%.