Título: Brasil e UE divergem sobre taxar transações
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2011, Economia, p. B4

Dilma Rousseff diz que é favorável a maior regulação do fluxo, mas apelou pelo consenso

Brasil e União Europeia vão à reunião de cúpula do G-20 de Cannes, em 30 dias, com pelo menos um foco de divergências: o imposto sobre transações financeiras.

Reunida em Bruxelas com autoridades do bloco, a presidente Dilma Rousseff disse concordar com uma maior regulação sobre o fluxo internacional de capitais, mas não aceitou a proposta da taxação, defendida por Alemanha e França, que deve entrar em vigor na Europa em 2014 - com ou sem a aprovação das demais economias mais desenvolvidas.

A discordância foi revelada por Dilma a jornalistas no término da primeira etapa da viagem internacional - que prossegue hoje na Bulgária. Desde a noite de segunda-feira, a presidente teve quatro encontros com os presidentes do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, para tratar da "parceria estratégica" entre o país e o bloco. A crise das dívidas na Grécia, na Irlanda, em Portugal e a possibilidade de contágio na Itália, na Espanha e no sistema financeiro dominou a pauta.

Questionada pelo jornalistas, Dilma defendeu o controle sobre os fluxos e antecipou a pauta da cúpula de novembro. "No G-20, vão ser muito importantes todas as medidas de coordenação macroeconômicas e a ampliação da regulação sobre as movimentações financeiras", resumiu, analisando: "As crises internacionais têm raiz muito grande nos fluxos de capitais, que estão fora de controle. E isso tem sido fonte inesgotável de problemas. Sabemos disso até porque nós já tivemos uma situação similar".

Dilma então se disse contra a criação do imposto proposto pela UE - defendido por organizações de esquerda em vários países. Para ela, a solução é mais regulação. "Não acho que isso (o imposto) resolve", argumentou, expondo a divisão entre Brasil e UE no G-20. "Cada país ou região toma as suas medidas. Nós não somos juízes de decisões de outros países ou regiões, como é o caso da União Europeia."

Apesar do desacordo, Dilma apelou por um "consenso político" e defendeu a medida adotada pelo Ministério da Fazenda, de elevar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para combater o fluxo.

Depois de reiterar em três discursos a recomendação de que não se gerencie a crise das dívidas na Europa com um ajuste fiscal "extremamente recessivo", a presidente se disse pronta para debater no G-20. "A única coisa que não se pode ter nas relações internacionais é uma certa soberba - que, aliás, nós conhecemos porque tiveram com a gente."