Título: Produção de carros cai 20% em setembro
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2011, Economia, p. B1

Maior queda desde dezembro de 2008 foi atribuída pela indústria automobilística às férias coletivas para conter o aumento dos estoques

A produção de veículos em setembro registrou queda de 19,7% em relação ao mês anterior. No total, foram produzidas 261,2 mil unidades. A indústria automobilística não assistia a uma redução tão drástica desde dezembro de 2008, no auge da crise internacional. Na comparação com o mesmo mês de 2010, houve diminuição de 6,2% no número de carros fabricados no País.

A indústria credita a queda ao corte da produção nas últimas semanas, com anúncios de férias coletivas e suspensão de jornadas extras de trabalho pelas principais montadoras para conter o avanço dos estoques, que já atingiam o equivalente a 37 dias de vendas. No mês passado, a média baixou para 36 dias.

O aumento das vendas de carros importados, que já chega a 35% em relação ao ano passado, é um dos fatores apontados por especialistas para o encalhe de carros nos pátios das fábricas e das revendas. Para Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos, a chegada de modelos chineses populares atingiu o nicho considerado como "filé mignon" das montadoras e obrigou as empresas a rever a política de preços.

"Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada pelo IPCA geral está na casa dos 5,5%, enquanto no IPCA dos carros há deflação", diz Mendonça de Barros. Foi nesse contexto que as montadoras conseguiram do governo federal há três semanas decreto que aumenta em 30 pontos porcentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos que não tenham 65% de índice de nacionalização, atingindo em cheio os importados de países com os quais o Brasil não tem acordo comercial.

Proteção. "É uma medida protecionista", avalia o consultor de mercado de produção da CSM WorldWide, Fernando Trujillo. Ele ressalta que, ao contrário da produção, as vendas não tiveram desempenho crítico em setembro. Os negócios foram 4,9% inferiores aos de agosto, com 311,6 mil unidades emplacadas, incluindo caminhões e ônibus. Na média diária de vendas, contudo, houve alta de 4,2%, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O presidente da General Motors América do Sul, Jaime Ardila, ressalta que "não existe no mundo uma indústria automobilística forte em que não haja proteção, inclusive os que mais reclamam pela abertura, como Coreia do Sul e China".

Segundo Ardila, "como se dá essa proteção é um tema distinto". Na China, uma empresa só pode atuar em parceria com fabricantes locais e o índice de nacionalização exigido é de 90%.

Na opinião de Mendonça de Barros, sem a forte concorrência dos importados, que em setembro tiveram participação recorde de 25,4% nas vendas (79 mil unidades, incluindo os trazidos do Mercosul), os preços dos carros nacionais vão subir de 10% a 15% nos próximos quatro meses.