Título: Avanço do dólar acelera a inflação medida pelo IGP-DI
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2011, Economia, p. B4

Indicador saltou para 0,75% em setembro; alta do dólar deve dificultar cumprimento da meta de inflação

O dólar em alta levou à arrancada do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), que saltou de 0,61% para 0,75% de agosto para setembro. Para o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, o efeito cambial pode dar o empurrão necessário para o não cumprimento da meta inflacionária de 2011, que vai até 6,5%.

Além disso, o indicador mostrou taxa de 5,38% para o núcleo da inflação varejista acumulado em 12 meses até setembro, o maior desde agosto de 2005 (5,47%). Usado para mensurar tendências, o núcleo excluiu as principais quedas e as mais expressivas altas no varejo, e mostrou disseminação das elevações de preço percebidas pelo consumidor. Isso deve dificultar a intenção do governo de convergir em 2012 para o centro da meta inflacionária (4,5%).

Entre os exemplos de produtos mais caros devido à alta do dólar, Quadros destacou a mudança de trajetória dos preços de materiais para manufatura (de -0,79% para 1,15%), que são os insumos para a indústria.

"O efeito cambial na inflação foi mais concentrado no setor industrial do que na agropecuária em setembro", disse. Como o setor industrial responde por mais de 50% da inflação do atacado, um dos três setores pesquisados pela fundação para cálculo do IGP-DI, isso também impulsionou o avanço nos preços atacadistas (de 0,77% para 0,94%) de agosto para setembro.

Para o especialista, outros fatores podem ajudar a equilibrar o impacto da alta do dólar na inflação. Entre eles está a possibilidade de menor avanço nos preços das commodities, devido à desaceleração da economia mundial. Na avaliação de Quadros, o dólar "não é o grande problema inflacionário do momento". Outros fatores são mais preocupantes, como demanda ainda relativamente aquecida no mercado interno; e o recente corte na taxa básica de juros (Selic).

O impacto do dólar ainda não chegou ao varejo. De agosto para setembro, a inflação percebida pelo consumidor acelerou (de 0,40% para 0,50%) principalmente por aumentos em preços administrados. Mas com o dólar em alta, além de aumentos nos preços de importados, isso deve elevar a atratividade das exportações de produtos de grande importância na inflação varejista, como carnes por exemplo.