Título: BC defende corte moderado de juro
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2011, Economia, p. B4

No momento em que surgem boatos de reduções maiores que 0,5 ponto na Selic, presidente do BC volta a defender cortes "moderados"

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mandou um recado ontem ao mercado: cortes "moderados" do juro, como o de agosto, de 0,50 ponto porcentual, são suficientes para levar a inflação ao centro da meta em 2012.

Ainda que a afirmação não seja nova - já foi usada algumas vezes desde a redução inesperada da Selic -, a decisão de Tombini de repetir a avaliação ganha contornos diferentes porque nos últimos dias cresceram rumores de que o BC poderia acelerar a redução do juro na reunião marcada para 19 de outubro.

Em evento interno para lançar um novo sistema de busca de normas na instituição, Tombini fez um diagnóstico da situação econômica e, ao defender o corte de agosto, disse que "ajustes moderados" na Selic continuam de acordo com o objetivo de reduzir o ritmo da inflação. "Quando revisamos o juro em 31 de agosto, já víamos que ajustes moderados da taxa eram consistentes com a convergência da inflação em dezembro de 2012." O corte considerado moderado foi, naquela data, de 0,50 ponto.

Tombini lembrou que a mesma avaliação estava no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado no fim de setembro. "Olhando para a frente", segundo ele, também os "ajustes moderados no juro são consistentes com a convergência da inflação com o centro da meta em 2012".

A decisão do presidente do BC de reforçar essa análise deve ser entendida como uma resposta ao mercado financeiro, onde uma pequena corrente - mas crescente - de investidores tem trabalhado com a hipótese de corte de até 1 ponto porcentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o que levaria a taxa para 11% anuais. O aumento da força desses boatos gerou desconforto no BC. Na instituição, há o entendimento de que, ainda que o cenário internacional siga bastante deteriorado, não houve nenhum fato novo desde agosto para uma ação mais agressiva do comitê.

Dólar. Tombini também tratou do comportamento do câmbio. Ao comentar que o mercado global tem apresentado forte volatilidade nas três últimas semanas, lembrou que houve "um movimento internacional" com o dólar. "Vários países tiveram suas moedas depreciadas e com o real não foi diferente", disse. A recente forte subida do dólar foi um dos principais responsáveis pelo aumento de preços de produtos básicos - as commodities - em setembro, movimento que já começa a ser sentido no bolso do consumidor via aumentos de itens como carne e açúcar.

O presidente do BC aproveitou para dizer que, se necessário, a instituição tem munição para agir nos negócios com o dólar, como tem feito desde 21 de setembro no mercado futuro. Apesar disso, Tombini disse que o BC não "abdicou" da estratégia de comprar a moeda para reforçar as reservas internacionais. Desde meados de setembro, o BC não compra dólares para esse fim. Em setembro, as reservas brasileiras caíram pela primeira vez em 30 meses.