Título: Sindicatos pegam carona em movimento
Autor: Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2011, Economia, p. B10

Mobilização batizada de Ocupar Wall Street surpreendeu sindicalistas, que agora estão participando das manifestações

Stuart Appelbaum, um influente líder sindical de Nova York, estava na Tunísia no mês passado, assessorando a criação de um movimento trabalhista naquele país, quando recebeu uma avalanche de telefonemas e e-mails avisando-o de perturbações em Nova York. Manifestantes se uniram a um movimento adotando o nome provocativo Ocupar Wall Street e se reuniram em um parque em Lower Manhattan para levantar questões de grande interesse para os sindicatos.

O movimento estava chamando a atenção. Appelbaum pediu a um colega no telefone para descobrir quem estava levando o movimento adiante - um bando de hippies ou talvez arruaceiros? - e se ele poderia perder força rapidamente. Até agora, não perdeu. Na quarta-feira, diversos sindicatos importantes fizeram a sua primeira tentativa para unir forças com o movimento. Milhares de sindicalistas marcharam com os manifestantes desde a Foley Square até o seu acampamento no vizinho Zuccotti Park. "O movimento trabalhista precisa aproveitar essa energia e aprender com eles", disse Appelbaum, presidente do Sindicato dos Comerciários. "Eles estão convencendo muita gente e entusiasmando um número muito grande de pessoas."

O sucesso inesperado do movimento em sua crítica à América corporativa tem provocado um exame de consciência por parte dos líderes trabalhistas. Eles observaram com inveja que esse novo movimento está fazendo um trabalho muito melhor, não só conseguindo atrair o interesse de trabalhadores, mas também os jovens. Diversos sindicalistas se queixaram de que protestos realizados por eles nos últimos dois anos despertaram pouca atenção, embora tenham colocado nas rua mais pessoas do que o movimento Ocupar Wall Street. Uma concentração promovida pelos sindicatos em Washington em outubro de 2010 reuniu mais de 100 mil pessoas, mas teve mínima cobertura pela mídia.

Nos últimos dias, líderes sindicais debateram nos bastidores como reagir ao movimento Ocupar Wall Street. Em discussões internas, alguns expressaram preocupação de que, se ficasse constatado que os sindicatos estavam tentando cooptar o movimento, isso poderia afastar os manifestantes e desencadear uma reação adversa. Outros disseram estar preocupados de serem provocados por ativistas da esquerda radical dentro do grupo que vem denunciando repetidamente o governo dos Estados Unidos.

Essas preocupações poderão ser reavivadas depois de um distúrbio que aconteceu na quarta-feira, quando uma manifestação foi dispersada. Segundo a polícia, oito manifestantes foram presos entre a Broadway e Wall Street. Um casal de testemunhas afirmou que os policiais usaram spray de pimenta para dispersar a multidão. Paul J. Brown, porta-voz do Departamento de Polícia, admitiu que um policial "possivelmente" teria usado.

Apesar das questões levantadas sobre a hostilidade dos manifestantes para com as autoridades, muitos líderes sindicais decidiram aderir ao movimento Ocupar Wall Street. Por exemplo, na quarta-feira, membros do conselho executivo da AFL-CIO manifestaram o seu apoio unânime ao movimento. Os dois movimentos podem ser nitidamente diferentes, mas os líderes dos sindicatos sustentam que ambos podem se apoiar mutuamente.

Os líderes sindicais esperam que o movimento sirva como um contrapeso ao Tea Party e contribua para pressionar o presidente Barack Obama e o Congresso a concentrar atenção na criação de empregos. Os sindicatos invariavelmente têm uma lista longa e específica de reivindicações, e o novo movimento não possui demandas formalmente articuladas. Os líderes sindicais quase sempre são personalidades que apreciam ficar sob os refletores, mas esse novo movimento ainda não tem liderança. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO