Título: Tombini vê sinais de desaquecimento na economia
Autor: Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2011, Economia, p. B13

Presidente do Banco Central diz que a política monetária considera efeitos em curso decorrentes de medidas já adotadas desde o fim de 2010

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou ontem em São Paulo que as medidas adotadas pelo governo deste o final do ano passado estão dando resultados, levando a um ajuste das condições da demanda à oferta. "Há sinais mais nítidos de moderação do nível de atividade", comentou, em palestra no Sindicato da Habitação (Secovi).

"Até o mercado de trabalho já perde velocidade", destacou. "A projeção de crescimento do Brasil para 2011 está em 4%, mas vamos revisá-la para baixo", completou.

Segundo o presidente do Banco Central, a política monetária levou à moderação do nível de atividade, graças a várias ações oficiais, entre elas a elevação dos juros de 1,25 ponto porcentual entre janeiro e julho deste ano. "A inflação até abril de 2012 deve cair dois pontos porcentuais", destacou. "O objetivo é trazer a inflação à meta em dezembro de 2012. Vamos trabalhar nesse sentido", disse.

Para Tombini, o menor crescimento mundial nos próximos 16 meses deve conter o ímpeto das commodities, o que será positivo para o processo de controle da inflação oficial (IPCA).

"Apesar de a inflação estar no pico, estamos tirando pressão dos preços", afirmou. Segundo ele, a alta pontual de alimentos, como a carne, observa fatores sazonais que, por definição, são temporários. Segundo ele, os choques atuais de preços de alimentos devem ter curta duração. "Será diferente do que foi registrado no segundo semestre de 2010", garantiu.

Consumo. O presidente do Banco Central ressaltou que a força do consumo interno é um dos principais fatores que fortalecem o Brasil para enfrentar os efeitos da crise econômica internacional. "O mercado doméstico está maior, pois registrou um ingresso de 35 milhões de pessoas nos últimos oito anos, e é a mola propulsora do crescimento", afirmou.

Câmbio. De acordo com o presidente do BC, as medidas adotadas pelo governo no mercado de derivativos de dólar "recompuseram o ingresso de fluxos" de capitais para o País. Ele citou que antes de tais ações oficiais, havia apostas contra o dólar de US$ 17 bilhões. Sem a intervenção do governo, o valor poderia, segundo ele, ter chegado hoje a US$ 30 bilhões ou US$ 40 bilhões. "Com este volume, uma mudança súbita da posição cambial poderia trazer efeitos negativos substanciais para empresas com passivos atrelados ao dólar".

O presidente do BC explicou que o agravamento da crise internacional trouxe um ajuste do câmbio. A cotação chegou ontem a R$ 1,72, o que representa uma alta de 7,5% em setembro. Ele ressaltou, no entanto, que a economia possui condições favoráveis, o que pode ser comprovado por várias características. Uma delas é a boa saúde do sistema financeiro. "Os bancos são sólidos e estão bem provisionados para perdas", comentou.

Liquidez. Para Tombini, as boas condições da economia fazem com que o País tenha abundância de capitais. "Somos destino atrativo para estrangeiros", afirmou. Segundo ele, o Brasil dispõe de "colchões de liquidez" que poderão ser usados no futuro próximo, caso ocorra uma piora da crise. Ele não deu detalhes sobre estes recursos. Mas ressaltou que os depósitos compulsórios dos bancos no BC estão em R$ 420 bilhões e as reservas cambiais estão US$ 150 bilhões acima do que era registrado na crise financeira de 2008. " 65% dos recursos que ingressaram no País de janeiro a agosto deste ano são de longo prazo", disse Tombini.

Expectativa

ALEXANDRE TOMBINI PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL

"Até o mercado de trabalho já perde velocidade. A projeção de crescimento do Brasil para 2011 está em 4%, mas vamos revisá-la para baixo."

"O objetivo é trazer a inflação para a meta em dezembro de 2012. Vamos trabalhar nesse sentido."