Título: A redução da taxa Selic e o comportamento do câmbio
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2011, Economia, p. B2

A redução da taxa de juros de referência (Selic) teve um efeito positivo: contribuiu para a desvalorização do real ante o dólar num momento em que a moeda norte-americana estava se valorizando, em parte graças à situação internacional e, mais especificamente, dos países da zona do euro.

Mas essa desvalorização do real tem também alguns aspectos negativos, entre os quais o mais importante parece ser seus efeitos sobre a taxa de inflação.

Os últimos dados sobre índices de preços (15 de setembro) mostram os primeiros efeitos da desvalorização do real ante o dólar. Num levantamento de preços que engloba o período de 11 de agosto a 10 de setembro (a decisão do Copom ocorreu no dia 31 de agosto e a ata foi divulgada em 8 de setembro) já se nota uma alta dos índices: o IGP-10 (índice geral de preços) subiu 0,63%, após avançar 0,20% em agosto; e o IPA-10 (índice de preços por atacado) subiu 0,73%, ante 0,26% em agosto.

Foi no setor agropecuário que se verificaram os maiores aumentos - aves, 6,98%, e carne bovina, 5,06% -, o que mostra que não se deve esperar tão cedo uma redução dos preços do setor, apesar dos bons resultados da safra, pois à forte demanda externa acrescenta-se a desvalorização. Os preços industriais passam de uma queda de 0,31%, em agosto, para uma de 2,69%, no mês seguinte.

Cabe notar que o comércio varejista ainda não teve tempo para reajustar seus preços, principalmente os dos produtos importados, comprados a uma taxa valorizada.

Não há dúvida de que essa evolução da pressão inflacionária será notada pelos sindicatos operários que ainda não fecharam seus acordos salariais e contribuirá para alimentar as pressões inflacionárias do final do ano. O único freio dessa tendência, infelizmente, é o aumento do desemprego, que começa a se verificar.

No contexto internacional, com o agravamento da situação global, é possível que se verifique uma queda dos preços das commodities (com exceção da agropecuária), que deverá se traduzir por uma maior desvalorização da moeda nacional - mas sem a perspectiva de um aumento das exportações, por falta de uma demanda dinâmica. A redução das importações no curto prazo será pequena, pois nossa indústria, que sofreu muito com as importações, não poderá responder rapidamente a uma alta da demanda doméstica.

Não existe perspectiva para um enfraquecimento da moeda norte-americana, apesar da situação econômica dos EUA.