Título: Só 3 em 25 países seguem BC do Brasil
Autor: Alves, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2011, Economia, p. B8

Maioria dos BCs divergem da decisão do Brasil de reduzir a taxa básica; só Armênia, Tunísia e Quênia seguem País e cortam os juros

Desde que cortou a taxa de juros em 0,50 ponto porcentual no dia 31 de agosto, o Banco Central brasileiro encontrou respaldo apenas das autoridades monetárias da Armênia, Tunísia e Sérvia, enquanto outros 22 bancos centrais mantiveram os juros inalterados, não endossando o cenário de forte deterioração da economia mundial descrita pelo BC brasileiro.

Entre os que decidiram esperar antes de baixar os juros para ver o que acontece com a economia global estão o Banco Central Europeu (BCE) e os BCs da Austrália, do Japão, do Canadá, da Suécia, da Dinamarca, da Rússia e do Reino Unido. Já os BCs da Uganda, Índia e da Bielo-Rússia elevaram fortemente a taxa básica de juros.

"Isso é uma evidência que o nosso Banco Central está se antecipando a uma piora no cenário da economia internacional que, na verdade, não aconteceu ainda, razão pela qual esses outros bancos centrais ainda não agiram", disse à Agência Estado o diretor de pesquisa de mercados emergentes para Américas da Nomura Securities, Tony Volpon. Ele lembrou que, apesar de a fonte principal da instabilidade dos mercados financeiros mundiais ser a crise da dívida da zona do euro, o BCE não cortou juros. "O que se questiona é até que ponto um banco central deve apostar num cenário que não é aquele base do mercado e dos outros bancos centrais", acrescentou Volpon. "O BC brasileiro foi prematuro."

Ao justificar a sua decisão de manter os juros inalterados em 4,75%, no dia 6 de setembro, o presidente do BC australiano, Glenn Stevens, disse que sua preocupação principal era com a perspectiva para a inflação na economia do seu país. "A questão chave é qual a magnitude que uma demanda global mais fraca e um crescimento doméstico mais lento terá para conter a inflação", escreveu Stevens após o anúncio da decisão de juros. "A preocupação da diretoria (do BC australiano) é com a perspectiva de inflação no médio prazo."

Mesmo no centro da crise mundial, o Banco Central Europeu manteve uma avaliação bem menos pessimista do que o BC brasileiro. Ao manter a taxa de juros da zona do euro em 1,50%, no dia 8 de setembro, o BCE disse que trabalha com um crescimento econômico da zona do euro ainda moderado e não uma recessão, apesar das incertezas do cenário. E avisou: "Permanece essencial para a política monetária focar no seu mandato de manter a estabilidade de preço no médio prazo."

Riscos. Na América Latina, o banco central do Peru preferiu adotar uma postura mais cautelosa antes de tomar uma decisão. O BC peruano manteve a taxa básica de juros inalterada em 4,25%, também no dia 8, alertando que a decisão levou em conta a desaceleração da economia mundial e a intensificação dos riscos financeiros do mercado internacional. "Se essa tendência continuar, o banco central mudará a sua postura em relação à política monetária", afirmaram as autoridades monetárias peruanas em comunicado.

Na quinta-feira, o banco central da Nova Zelândia manteve os juros inalterados em 2,5%, Já o BC da índia aumentou, na sexta-feira, os juros em 0,25 pp para 8,25%. Ainda na quinta-feira, o BC suíço manteve inalterada a taxa de juros entre 0 e 0,25%.

Apesar de os investidores estarem apostando em corte de juros pelo banco central do Chile nos próximos seis meses, conforme indicam os contratos de juros no mercado futuro, o BC chileno jogou um balde de água fria no mercado e manteve os juros inalterados em 5,25% na quinta-feira. Antes, no dia 7 de setembro, ao divulgar o relatório de inflação, o presidente do BC chileno, José De Gregório, indicou que, por enquanto, os juros permanecerão inalterados em 5,25%. Segundo De Gregório, a situação externa terá provavelmente um impacto na economia chilena e na política monetária do país, mas ele não vê esse impacto como relevante em 2011, sendo o efeito maior apenas em 2012. "No curto prazo, a taxa de juros da política monetária ficará semelhante aos níveis atuais."

Contramão. Na contramão da maioria dos BCs mundiais, e endossando a posição do Brasil, encontram-se os BCs da Armênia, da Tunísia e da Sérvia, todos reduzindo os juros em 0,5 pp. Por outro lado, os BCs da Índia, da Bielo-Rússia, do Quênia e de Uganda elevaram a taxa básica de juros. O BC indiano afirmou na sexta-feira, após o anúncio do aperto monetário em 0,25 ponto porcentual, que uma "mudança prematura" de política monetária poderá "endurecer as expectativas inflacionárias" e que era preciso esperar que as decisões de juros anteriores tenham o tempo necessário para surtir efeito. Nesta semana, os bancos centrais da Hungria, República Checa, África do Sul e Turquia se reúnem, mas os analistas esperam que todos os quatro BCs deixem suas taxas onde ainda se encontram atualmente.

Visão de longa distância

TONY VOLPON DIRETOR DE PESQUISA DE MERCADOS EMERGENTES PARA AMÉRICAS DA NOMURA SECURITIES

"Isso é uma evidência que o nosso BC está se antecipando a uma piora no cenário da economia internacional que, na verdade, não aconteceu ainda, razão pela qual esses outros BCs ainda não agiram."